Gota d'água - Chico Buarque e Paulo Pontes (174p. [L. 44. out-2020])
Uma adaptação ou releitura (não sei as reais definições de cada palavra, mas é decorrente de uma obra original, de uma outra obra) da tragédia grega "Medeia", de Eurípedes, umas das minhas preferidas.
Na narrativa original, Medeia é uma feiticeira, da cidade de Cólquida, tem em sua genealogia o Sol e tem afinidades com a deusa Hécate, rainha das encruzilhadas. A protagonista, apaixonou-se por Jasão, matou seu pai por ele, traiu sua pátria e partiu com esse homem, facilitando a vida dele em diversas situações e fazendo-o vencedor de td q quisesse. Teve dois filhos com ele e viviam mt felizes. Até q Jasão chega a um reino, cujo rei era Creonte, cresce o olho nos interesses do reino, e aceita se casar com a filha dele, abandona Medeia e os filhos. Mas, como toda tragédia grega, Medeia se vinga de todos, principalmente de Jasão, q só se aproveitou dela e a descartou qnd achou q devia. Ela envenenou Creonte e sua filha, matou seus 2 filhos pra atingir Jasão e foi embora, alcançando seu objetivo. O desenrolar dessa história é perfeito!
No livro em questão, há uma adaptação pra realidade brasileira. O casal e a maioria dos personagens vivem no que podemos perceber ser um cortiço, lugar em q vivam os pobres, no século XIX. Joana era a protagonista (representando Medeia) e Jasão, seu esposo (não oficial, n eram casados no papel), que era bem mais novo do que ela. Eles têm 2 filhos. Os demais personagens são trabalhadores de fábrica, e o faziam apenas para pagar aluguel e tentar comer. A diversão deles era o boteco/venda e a farra no domingo.
Creonte era o dono da fábrica e proprietário/senhorio da vila em que os trabalhadores moravam e pagavam aluguel a ele. Era o típico detentor dos bens de produção e explorador da classe trabalhadora, como bem define Marx. Os moradores, incitados por Egeu ( tb personagem em "Medeia", era o ativista aqui na narrativa; na tragédia original, apareceu no final e partiu com Medeia), atrasam o pagamento, alegando estar cada vez mais caro e eles terem q escolher entre comer e pagar o aluguel e ainda dever. Além disso, Medeia, pra se vingar de Jasão e seus novos parentes, vivia a falar mal de Creonte e desmoralizá-lo para a Vila, tb contribuiu pra essa espécie de reivindicação de direitos.
O livro é uma aula de classes sociais, exploração e expropriação trabalhista, desigualdade de riqueza, capitalismo à brasileira.. É uma aula em forma de literatura, de marxismo.
ALERTA SPOILER: Por fim, o final se deu de forma diferente da obra original. Medeia tenta enviar os presentes envenenados para Creonte e sua filha, por meio dos meninos, e o pai não aceita, prevendo que tinha algo de errado naquilo. Então, ele expulsa os meninos da festa, eles voltam pra casa, ela invoca às suas referências espirituais e decide se matar e aos filhos com o próprio veneno que ela criou para Creonte e sua filha. Fiquei impactada!!
Curiosidade: O nome do livro é baseado em uma fala de Medeia, no mito original. Em q ela diz q é a gota d'água o que Jasão estava fazendo com ela.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤
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