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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Desafio Leia Mulheres (junho): "Outros jeitos de usar a boca" Rupi Kaur

Desafio Leia Mulheres do mês de junho - Poesia
Outros jeitos de usar a boca - Rupi Kaur (255p. [L.19/jun-2020])

Esse livro foi tão.. aconchegante. Acredito que essa seja a palavra mais adequada para a sensação causada por esta leitura. Me senti abraçada e com segurança ao lê-lo. 
É um livro de poesias, que já conhecia há mt tempo, mas não tinha acesso a ele. A Rupi me deixou a impressão de um fazer poético mt leve, realista, cheio de emoções e reflexões, daquelas que te deixam sem chão àquelas que te fazem sentir que alguém conseguiu colocar em palavras, em um papel, o que vc sente, isso me toca  mt, assim como a música faz com mta facilidade.
As poesias são bem curtas, é um livro que se lê em um dia, se quiserem. Mas poesia é smp bom ler com calma. Não tem nada de complexo na escrita da Rupi, além do mais há alguns desenhos que são perfeitos. Eu amo quando as poesias têm gravuras, imagens, pinturas, viajo bastante, além do mais, é interessante ver como a autora interpreta o que escreve. 
O livro se divide em 4 partes: a dor; o amor; a ruptura; a cura.
São poesias que falam para mulheres (não só, os homens poderiam conhecer por essas poesias), de mulheres, sobre como se sentem, como é seu dia a dia e viver suas violências cotidianas, comuns e ainda não desistir de viver suas vidas. Ler e se identificar com o que lê é umas das coisas que mais me prendem à leitura. Esse desafio de ler mulheres, me fez conhecer mulheres e literaturas, histórias de vida incríveis. Ler mulheres me faz descobrir mais sobre mim e sobre quem quero ser, sobre a dor da outra e o quanto ainda preciso aprender a ter empatia por isso. 

Curiosidade: Rupi Kaur é uma poeta feminista contemporânea da Índia. Autora tb de "O que o sol fez com as flores".

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤

Destaco algumas poesias e desenhos que me tocaram e chamaram a minha atenção.









A ridícula ideia de nunca mais te ver - Rosa Montero



A ridícula ideia de nunca mais te ver - Rosa Montero (p. 208 [L.22 - jul-2020]).

As leituras deste ano estão sendo incríveis!! Descobri esse livro e autora em 2020, pela @bobafeia - hj, adm do ig @recapitular, minha eterna caloura (rs) - por uma postagem dela sobre ele, perguntei a respeito de quê falava e me interessei mt! 
Queria ter uma esperança em saber lidar com o luto, até que, em maio, esse livro se tornou extremamente necessário. Então, encomendei e demorou quase um mês pra chegar nessa pandemia (louca). Eu tinha outras coisas pra ler e outras pra terminar, mas não resisti e aqui estou.
Eu achava que esse livro seria uma espécie de manual pra lidar com a morte, com a perda de alguém mt especial, depois lembrei de q a Vanessa tinha dito: não era exatamente isso, embora abordasse essa questão. Essa se tornou uma questão pra autora, já que ela não desejava que fosse um livro a falar de morte e luto, msm que abordasse td isso e a intenção não fosse essa.
E foi perfeito!! Que leitura fluida, divertida, carregada de emoções, chocante e leve. 
Rosa faz (mais) uma biografia (deixa claro que faz interpretações das biografias já existentes) sobre Marie Curie, uma cientista polonesa, brilhante, que recebeu o Nobel de química e física, descobriu o rádio (da radioterapia) e o polônio, além de ter contribuído muito para o avanço da Ciência. Esse contar de história parte da morte do esposo (e tb parceiro de trabalho) de Marie, que, em diversos momentos, faz Rosa lembrar da morte de seu próprio marido e ela fala sobre isso. Que construção perfeita!
Rosa escreve sobre o fazer literário e como é o seu fazer, da sua necessidade de ter liberdade ao escrever e sentir prazer na história que cria; além de a arte e a literatura lhe causarem essa felicidade e liberdade no momento do luto, o qnt funcionam bem como uma "fuga" da realidade ou como parte essencial para que se viva uma vida de uma maneira melhor.
Ela ainda faz críticas a biógrafos que parecem resumir o fim da vida das pessoas, marcando só os feitos extraordinários, mts vezes, deixando de falar de coisas simples, com as quais nós, leitores, podemos nos identificar mt mais.
A autora destaca algo que me fez refletir: morte e luto não são coisas das quais as pessoas costumam falar, o que pode contribuir para o nosso não saber lidar com eles. E ver escrito exatamente o sinto e entender pq penso certas coisas, nesse momento, foi indescritível. Chorei? Claro que sim, pq tô vivendo um luto, e foi importante para esse processo. Obg, Rosa!!
E, por fim, destaco a abordagem dela sobre o lugar da mulher naquela sociedade (a de Marie) e o seu lugar de mulher na sua, em sua época de juventude (década de 70). Imaginem o qnt essa mulher cientista, lugar super incomum a uma mulher, não sofreu e lutou para ter reconhecimento e respeito por seu trabalho. Sofreu os mais absurdos e ultrapassados (pelo menos, deveriam ser) machismos e preconceitos. 
Marie Curie é inspiração; assim como Rosa Montero, que me apresentou, de uma maneira incrível, essa mulher; assim como Vanessa que me apresentou Rosa; assim como mtas outras que me fortalecem e me empoderam à luta. Obg a todas!

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

1968: um ano que não acabou - Zuenir Ventura


1968:  um ano que não acabou - Zuenir Ventura (p. 310 [L.21-mai/jul-2020])

Antes de mais nada, para ler este livro, é importante ter uma básica bagagem de referências, porque ele cita várias pessoas, teóricos, filmes, bibliografias, partindo do princípio de que conhecemos. Mas não impede que quem não conheça boa parte dessas referências não consiga entender o que ele apresenta, vale ressaltar que é uma apresentação brilhante!
Tenho esse livro há uns quase 7 anos na prateleira, queria ler, smp adiava demais e uma amiga, Narrinan, me instigou a ler e resolvemos discuti-lo juntas. Discutirmos o primeira parte e estamos de marcar uma live (de nós duas rs) para discutir as partes restantes.
Foi muito interessante o jeito de narrar do autor sobre o ano 1968. Ele contou aquele período como participante e relembrando os momentos como se estivesse entre amigos e me deu a sensação de que eu também era, pelo modo como ele nos inclui na narrativa.
O livro se divide em 4 partes, que descrevem o que rolou no tão fatídico ano de 1968, aqui no Brasil.. Que ano! As principais questões são a truculência do Estado e da segurança pública para lidar com manifestantes na já existente ditadura e efetivação dos Atos Institucionais (AIs). Neste ano, , foi instituído o AI-5, o pior de todos, mas, antes disso, mtas coisas aconteceram: mortes, "fake news", manifestações, acordos entre manifestantes e governantes, ameaças, desavenças, vazamentos de informações e mta violência.
Zuenir é engraçado, irônico e, algumas vezes e outras, parece "imparcial", mas, na vdd, é possível perceber claramente seu posicionamento.
Foi bem legal conhecer a vivência, nessa narrativa, de pessoas que hoje vemos como celebridades políticas e artísticas.
Adorei o quanto ele fala sobre o movimento estudantil, da força e iniciativa da juventude em busca da tão sonhada sociedade democrática ou comunista, do qnt os estudantes foram importantes nessa luta e encabeçaram esse movimento pelas justiças sociais.
Ao ler sobre história vejo o quanto certas coisas (essenciais para o bem-estar social e que deveriam mudar) não mudam, por exemplo, uma esquerda dividida, que acaba não conquistando poder por isso; a briga partidária, ao invés de se discutir medidas que transformem as desigualdades e as violações de direitos.

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤

domingo, 16 de agosto de 2020

Hibisco roxo - Chimamanda Ngozi Adichie



Hibisco roxo - Chimamanda Ngozi Adichie (328p. [L.20 - jun/jul-2020])

Que experiência maravilhosa ler este livro e conhecer um romance da Chimamanda, eu só conhecia os livros teóricos. Ela é incrível do mesmo jeito. Agradeço a @gigilelivros pela iniciativa de criar um grupo de leituras  e por ter nos proporcionado as discussões sobre ele.
Kambili é a protagonista e autora dessa história, tem 15 anos e vive em uma família na Nigéria, que abandona sua cultura, religião e identidade para seguir a dos europeus. Essa história é marcada por violência, machismo, desigualdade, intolerância e esperança. É bem pesada, revoltante, em muitos momentos, e tocante. 
Eugene, o pai de Kambili era extremamente agressivo e punitivo qnd se tratava de consertar erros, pecados da família. Aderiu à religião católica, não admitia mais a língua materna em sua casa, apenas o inglês; suas roupas, atitudes deveriam ser as europeias e da religião católica agora. O detalhe com que a autora descreve as violências e o sentimento contido de Kambili (não reconhecia o pai como alguém violento, justificando seus comportamentos), do irmão e da mãe é de um cuidado e sensibilidades mt reais. 
Essa maneira de viver trazia consequências ao jeito das crianças, eram smp admiradas e tidas como exemplos por todos e isso me chamou a atenção: devemos desconfiar de crianças mt quietas e educadas, crianças são enérgicas e espoletas, geralmente haverá uma falha e qnd não há, é motivo de desconfiança, de imaginar, no mínimo, um ambiente familiar violento.
Uma das coisas que mais me marcou foi o fato de que a esposa fazia por menos pra n estressar o marido e se anulava, assim como os filhos, o que é comum em pessoas que sofrem violência doméstica e se mantêm tanto tempo em um relacionamento tóxico. Não é fácil sair de um relacionamento abusivo. Esse tipo de literatura ajuda a compreender como as realidades se dão.
Eugene era dono de um jornal famoso da cidade e de fábricas, o que o tornava muito rico, porém, por conta da religião, desprezava todos que não fossem católicos, inclusive seus familiares. A relação que tem com o pai é revoltante. Dava-se melhor com Ifeoma (a melhor personagem), sua irmã, pois era católica tb, mas o oposto dele. Ela era professora universitária, viúva, fazia o que podia para sustentar seus filhos e lhes ensinar a viver de uma forma livre e respeitosa. 
O contexto histórico da cidade não ajudava mt, pois estava em guerra civil e a democracia era uma luta a ser conquistada, logo, professores universitários eram os principais alvos desta guerra. Eugene, dono do jornal, tb sofria suas represálias, embora isso soe bem contraditório à sua conduta familiar.. Questões da narrativa.. Que são algumas como, o final de Eugene; de seu pai e seu papel nisso; de sua esposa, de seu filho; de sua irmã e seus sobrinhos; qual era a real intenção do padre; o que o nome do livro tem a ver com a história e a planta (segue a foto abaixo).
Embora o final tenha parecido corrido, recomendo demais a leitura e discussão desse livro.
OBS.: No grupo de leitura sobre o livro, a galera recomendou os seguintes livros, que "Hibisco roxo" fez lembrar: "A terceira vida de Grange Copeland" e "A cor púrpura" de Alice Walker; "A menina da montanha" de Tara Westover; "Abril despedaçado" de Ismail Kadare e; "O mundo se despedaça" de Chinua Achebe.

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤

Este é um hibisco roxo:

sábado, 1 de agosto de 2020

Olhos d'água - Conceição Evaristo




Olhos d'água - Conceição Evaristo (88p. [L.18-mai/jun-2020])

Eu fiquei inebriada com a escrita dessa mulher!! Ela é realmente tudo o q que dizem sobre ela! O que ela faz é realmente uma "escrevivência", o escrever de si, de sua vivência, pois escrever é ser. Esse livro foi de uma emoção, de um encontro chocante com a realidade que só aumenta minha admiração e devoção às mulheres negras, as escritoras negras do Brasil e do mundo.
Tinha vontade de conhecer a escrita da Conceição, possuía o livro em PDF, até que, fuxicando as páginas de literatura que sigo, em específico @gigilelivros, vi uma proposta de leitura compartilhada desse livro  e não perdi a chance.
As discussões sobre os contos aconteciam no grupo do whatsapp, todas as quartas, às 19:30, não acompanhei ao vivo, mas sempre lia as discussões depois. É muito bem ler em conjunto e depois discutir sobre, porque me faz observar outras coisas, atentar a outras, assimilar melhor o conteúdo, além do mais, o outro smp traz informações e referências que não nos atentamos ou n conhecíamos antes. Amei a experiência! Foi minha primeira vez..
Após a leitura, soube de um debate e participei, do "Grupo de leitura ZO", disponível no facebook, e foi com as organizadoras do @literalmenteelas , maravilhosas! Foi um debate emocionante. Com isso, percebi que falar da Conceição e de "Olhos d'água" vai ser sempre assim.
O livro aborda sobre mulheres e homens negros, suas vivências; a questão da gravidez precoce, do aborto; da pobreza, da mendicância; da mãe solteira; da criminalidade; do emprego doméstico; da objetificação e sexualização do corpo da mulher negra, entre outros. Isso, sob o olhar de quem são as vítimas desses contextos e realidades.  Ela ainda nos apresenta finais diferentes para histórias que estamos acostumadas a ler e conhecer, como: um fim diferente para mulheres que sofrem relacionamentos abusivos; a naturalização da liberdade sexual, mostrando que há outras formas de se relacionar, além da monogamia, da heterossexualidade e da "eternização romantizada" dos relacionamentos. E ela não faz isso, diretamente, nos despertando para tais questões, Conceição apenas fala sobre como algo comum  (que é, mas, pra muitos, não é). Ela dá vários "tapas sem mão" na nossa cara de uma maneira muito leve e descontraída.
Outra questão interessante é sua utilização de neologismos super pertinentes e marcantes. Além disso, ressalta o quanto o corpo da mulher negra é um objeto e o é para reprodução, prostituição, prazer alheio. A mulher negra é culpada e morta sem ter culpa. Essa é uma realidade, não há como negar, só quem é mulher negra sabe disso e deve ser ouvida. 
E, pra fechar esta resenha, ela não deixa de lado a questão da desigualdade, da exploração da classe trabalhista, principalmente, da mulher nessa sociedade misógina da qual fazemos parte.
Conceição tem um jeito diferente de fazer literatura, qnt a isso não há o que discutir. E eu estou apaixonada por ela!   

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤