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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Desafio Leia mulheres maio: Os anões - Veronica Stigger



Desafio Leia Mulheres mês de maio - Contos
Os anões - Veronica Stigger (60p. [L.16/mai-2020])

Esse livro foi a coisa mais louca que li até agora, neste ano! É um livro de contos e escolhi para cumprir o desafio LeiaMulheres do mês de maio. Inclusive, quem quiser participar do desafio LeiaMulheres de 2020 ainda há tempo.
Consegui apreender algumas coisas durante a leitura, o que, ao final, me pareceram principais: a autora trata de coisas pesadas como se fossem algo simplesmente normal. Por exemplo, o assassinato de dois anões, que usavam sua "deficiência" para se beneficiar na sociedade e os "cidadãos de bem" se acharam no direito de linchá-los. A balconista, parecia não concordar com aquilo, mas a única coisa que fez para intervir, foi pedir que parassem, depois de os dois já estarem mortos, em seguida, ela limpou tudo e "empurrou para debaixo do tapete". Tem ainda passagens de suicídio, violência entre amigos/parentes, uma mãe que assassina a filha, acidentes intencionais. A maneira como ela descreve os crimes soa como frieza, mas isto é intencional.
Na contracapa, Mario Bellatin faz uma espécie de prefácio e aponta que Veronica teve a intenção de nos mostrar o quanto coisas terríveis acontecem na nossa frente todos os dias e naturalizamos isso. Algumas vezes, até partilhamos de certos comportamentos nada humanizados em prol de nosso bem-estar ou simplesmente para alimentar nossa apatia diante da vida e das pessoas. Essa sacada foi espetacular!
Foi mais um livro indicado pela Daiana, sobre o qual discutimos, e uma informação interessante que ela me passou foi que o tamanho do livro era uma maneira de destacar que ele também era um anão; as páginas com um quadrado preto eram para que o leitor se visse, se imaginasse autor e criador daquelas histórias. Infelizmente, nossa leitura foi em PDF e esses detalhes não nos foram possíveis de captar. Mas essa criação é de um efeito surpreendente, me soa algo mais realista, como se as palavras saíssem do papel, uma narrativa estilo 3D, sabe? Queremos o livro físico!!
É uma narrativa com características de literaturas contemporâneas: você pode criar o fim ou uma narrativa dentro da leitura; não existe necessidade de seguir a certas regras da norma padrão da língua, por exemplo, nem sempre a autora usou letras maiúsculas ao iniciar frases; a Dai disse que a questão do endereçamento também é comum.
O livro é curtinho, com contos de igual tamanho, alguns menores que o comum, de um parágrafo, por exemplo, mas de conteúdos intensos e que geram muita reflexão.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤

domingo, 24 de maio de 2020

Grupo de Pesquisa - “As três vozes da poesia” - Thomas Stearns Eliot


T. S. Eliot. As três vozes (p. 122-139)

Eu nunca tinha lido nada de T. S. Eliot, mas conhecia sua fama na teoria literária e já o admirava antes de ter acesso a seus textos e obras. A leitura desse capítulo só afirmaram o que eu já pressupunha.
O autor apresenta as três vozes da poesia: a primeira é a voz do poeta, que fala consigo ou com ninguém; a segunda, a voz do poeta ao se dirigir a um público; e a terceira, a voz de uma personagem imaginária que se dirige a outra, também imaginária. Aponta um problema na comunicação poética, existente na diferença entre as duas primeiras vozes, já que elas definem versos dramáticos, quase dramáticos e não dramáticos.
Quando o poeta escreve para a fala de um personagem alheio a si, deve fazer uma espécie de exercício de se colocar no lugar do outro, de saber como é ser aquela pessoa, além disso, a poesia, por si só, tem algo a dizer que é alheio ao autor e isso também deve ser observado na performance. Na dramatização, na performance do ator, não deve haver apenas a representação do autor naquela fala, mas a ação dramática precisa convencer o público de que ela é necessária.
Eliot, ao dar continuidade ao desenvolvimento de suas teorias, dá a impressão de um retorno à afirmação de que, não necessariamente, as três vozes estejam separadas ou se excluam. Mesmo que o poema não seja para uma plateia, o autor se preocupará em saber o que ele tem a dizer a outra pessoa, depois de ter satisfeito a si mesmo. 
Ele conclui afirmando que fez essas especulações para o leitor de poesia, mas eu achava que ele falava para o escritor de poesia. Entretanto, fez muito mais sentido ele falar para o leitor, observador, estudante, pesquisador de poesia, a fim de que entendêssemos suas mensagens, algumas vezes oblíquas, obscuras. Esse é mais um ponto para ser observado na poesia e facilitar sua compreensão: a análise das três vozes do autor.

E, mais uma vez, a voz é tratada como a própria comunicação, e não seu instrumento, mesmo no texto escrito, que não é declamado ou performancizado, feito intencionalmente ou não para alguém, pois, como pudemos observar, até o poema pessoal é escrito para alguém.

Link de acesso à resenha completa:

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Um útero é do tamanho de um punho - Angélica Freitas



Um útero é do tamanho de um punho - Angélica Freitas (78p. [L.15/maio-2020])

Já tinha ouvido falar desse livro muitas vezes há um tempo, ele sempre aparecia em diversas resenhas, dicas de leituras, clube de livros, confesso que era bem curiosa para lê-lo. Até que Daiana (rainha), minha amiga, sugeriu de lermos um livro juntas, porque amamos discutir sobre literatura, e me enviou essa beldade em pdf. E aqui estou eu, com mais um desejo realizado.
Confesso que tenho certa dificuldade com poesia, ainda mais contemporânea, sem o auxílio de um professor.. Não sei lidar muito bem com a liberdade a que ela se propõe.. rs.. Estou em processo.
Diante disso, considero minhas impressões sobre o livro as mais duvidosas, já que não me vejo apta, digna de tecer tais comentários. Mas deixo humildemente minhas percepções e espero comentários.
Na maioria das poesias, Angélica apresenta a mulher e seu cotidiano de uma maneira que ela não acredita que deva acontecer, e sei disso, pois ela é uma mulher que luta pelo respeito às mulheres e pela liberdade delas, inclusive, eu e Dai vimos uma entrevista em que ela explicava um pouco sobre sua escrita e suas influências. A autora apresenta a realidade machista em que a mulher vive e aparece defender isso, caso o leitor não tenha noção de quem Angélica seja, mas sabemos que ela deseja, nada mais que, ser irônica e humorista com tais apontamentos. O que foi muito interessante. As poesias são de um deboche sútil e espetacular.
Ela faz crítica às funções que nos foram impostas no que diz respeito à maternidade; ao direito ao nosso corpo; à roupa que usamos, inclusive suas cores; à maneira como dizem que devemos ser, pensar e agir; ao casamento e à ideia de família, trabalho, política. Ela não tem intenção de abonar ou erradicar nada disso, mas ressalta que devemos ser livres para escolher certas coisas ou não, porque a imposição, o desrespeito, a violência, o preconceito nos matam física e psicologicamente, nos anulam, nos invisibilizam, nos calam e isso não deveria acontecer.
O livro contém 37 poesias e 7 capítulos. São eles:
Uma mulher limpa
Mulher de
A mulher é uma construção
Um útero é do tamanho de um punho
3 poemas com auxílio do Google
Argentina
O livro rosa do coração dos trouxas

Na discussão sobre o livro que fiz com a Dai, tivemos a mesma dificuldade de compreensão e achamos que foi porque não somos leitoras e estudantes dedicadas de poesia, ainda mais a contemporânea, que parece mais complexa do que as mais antigas. Além do mais, achamos a Angélica complexa também, aliás, comentei que já li outras poetas contemporâneas e consegui alcançar, perceber mais os significados das poesias. Mas, a Dai me chamou a atenção para uma coisa: nem sempre a poesia precisa ser entendida ou entendida como achamos que deva ser.. e se segue a complexidade instigante da coisa.. (rs).
Revi e aprendi as características dessa poesia, como: a não obrigatoriedade das rimas; a elaboração de versos livres; o uso do Google para fazer poesias, o que, para alguns, é uma polêmica, pois pode gerar uma generalização ou redução de conceitos ou ideias; a falta de pontuação, de letras maiúsculas, principalmente no início dos versos.
Em algumas poesias, ela faz referência à escrita; à mitologia grega; a outras coisas das quais não tenho conhecimento e, assim, a autora vai apresentando e fazendo suas críticas da forma como manda sua poesia, seu fazer literário e sua "bagagem".

O quanto amei: 🖤🖤🖤



Fora tudo isso, percebi que gostei mais do livro do que imaginava, curti demais, em especial algumas poesias, as quais destaco: metonímia; querida angélica; a mulher vai; a mulher pensa.



segunda-feira, 18 de maio de 2020

Grupo de pesquisa - "Nalgum lugar entre o experimentalismo e a canção popular" - Marcelo Sandmann


Marcelo Sandmann. Nalgum lugar entre o experimentalismo e a canção popular: as cartas de Paulo Leminski a Régis Bonvicino. (P. 121-141).

Foi muito importante conhecer sobre Paulo Leminsk, um grande compositor e grande nome da música popular brasileira. Eu amo poesia concretista e foi essencial saber sobre o papel desse artista no movimento concreto de fazer arte e poesia e em sua "superação"; em ir além de uma poesia que, segundo ele, tinha bases injustas, era segregadora, não garantiam o acesso popular às mensagens que ela e a música popular brasileira queriam passar. Além disso, curti muito o posicionamento político dele no que dizia respeito às bases e às formas que a poesia e a música eram criadas.
O tema central das cartas de Leminski a Régio era os concretistas e o concretismo, a independência de criarem sem ter que seguir a um "manual", buscando uma criação livre; e ainda o papel da canção popular na criação, superando o concretismo. Leminski  "procurou cruzar a fronteira entre o livro e o disco (...) a despeito das possíveis intersecções de linguagem, com públicos, amplitudes e respostas igualmente distintos" (p. 124).
Em suma, Leminski se preocupava com a criação, focando no "trânsito do escritor da experimentação literária e do vínculo com o concretismo em direção a uma poesia mais comunicativa e à canção popular" (p. 140). 
Sandmann, o autor do texto em análise, mostra que a proposta de Leminski é de um engajamento social, sem uma vinculação à política de forma explícita. Acrescenta que o artista não fez uma mudança de partido, após sua passagem pelo experiencialismo, e afirma que o que sobressai é a "dialética entre vida e arte", que decorria mais de seu vínculo com a contracultura do que com a esquerda ortodoxa.
A música também ganha espaço em sua arte pela influência dela na poesia e a experiência do poeta ao compor canções. Ele admirava a poesia, que saiu do livro para a música popular, valorizando esta. Sandmann traz ainda, brevemente, a questão da diferença entre poeta e cancionista e ressalta que esse tema é discutido por Tatit.
Essas cartas promoveram Leminski a ser considerado e conhecido na poesia, na canção e principalmente na música popular brasileira. Elas abordavam "dilemas poéticos (...) na tentativa de lidar com elementos dificilmente conciliáveis como 'experimentação' e 'comunicação', 'informação culta' e 'cultura popular de massa'" (p. 139).
Foi um prazer conhecê-lo Leminski!

Link de acesso à resenha completa:
http://lendocancao.blogspot.com/2020/05/resenha-nalgum-lugar-entre-o.html

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Mitologia nórdica - Neil Gaiman


Mitologia nórdica - Neil Gaiman (288p. [L.14/abr-2020]

Não sei nem por onde começar a resenha desse livro! São muitas informações incríveis e a leitura foi perfeita!! Devorei esse livro em 3 dias e ainda fiz um glossário de 14 páginas com tudo que foi nomeado nessas narrativas (deuses, gigantes, objetos, mundos).
Eu sempre amei mitologia, porém era mais envolvida com a grega. Depois q vi a série "Vikings", a melhor série da minha vida, passei a ter interesse pela mitologia nórdica. E "os deuses" (rs) me proporcionaram o acesso a esse livro perfeito, por meio do meu cunhado! Alô, Felipe, obg! 😬
Na apresentação, o autor já afirma algo que me encanta na mitologia: "história, religião e mito se misturam". Isso é fascinante, não poderia haver combinação mais perfeita do que essa. 
O autor narra as histórias dos deuses nórdicos, desde quando o mundo começou até o que se esperava ser o fim dele. Os capítulos se dividem sob os seguintes títulos:
"Os personagens"
Breve apresentação sobre os principais deuses da mitologia nórdica: Odin, o Pai de todos; Thor, o forjador de trovões; e Loki, o deus da trapaça.
"Antes do princípio e o que veio depois"
Explicação sobre como a natureza (céu, terra, mar) surgiram; o primeiro homem, Ask; e a primeira mulher, Embla, formados por Odin, que soprou a vida e seus irmãos, Vili, deu-lhes vontade humana, inteligência e motivação; e Ve, deu-lhes a forma humana, já que eram uma espécie de troncos trazidos pela maré.
"A Yggdrasill e os nove mundos"
Essa é a Árvore do mundo, tem suas raízes fincadas em 3 mundos e se alimenta de 3 poços. Nela, Odin se enforcou para sacrificar sua própria vida em troca de sabedoria. Os nove mundos são: Asgard (lar dos deuses Aesir [uma das clãs dos deuses]); Álfheim (morada dos elfos de luz); Nídavellir ou Svarthalfheim (lar do anões); Midgard (dos humanos); Jötunheim (dos gigantes); Vanaheim (mundo dos Vanir [outra clã de deuses]); Niflheim (mundo escuro, das brumas); Muspell (mundo das chamas) e Hel (mundo dos mortos sem honra de guerreiros).
"A cabeça de Mímir e o olho de Odin"
Odin foi até o seu tio Mímir, irmão de sua mãe, Bestla, para beber um pouco da água de seu poço, o do conhecimento. Em troca, seu tio pediu um de seus olhos, e ele o concedeu. Os Vanir, para vingar Hoenir, o novo rei, que só sabia ser rei se Mímir estivesse com ele, deceparam a cabeça do sábio. Ela foi entregue a Odin e este a preservou no poço.
"Os tesouros dos deuses"
Os anões faziam presentes extraordinários aos deuses de vez em quando. Por coincidência, dessa vez, uma armadilha de Loki contra Thor acabou fazendo com que beneficiasse Thor, ao invés de prejudicá-lo, como Loki pretendia. Loki cortou os lindos cabelos loiros da esposa de Thor, Sif. Thor exigiu que ele desse um jeito nisso, caso contrário, destruiria seus ossos todos os dias. Então Loki recorreu aos anões conhecidos como Brokk e Eitri, e a outros anões, conhecidos como "os filhos de Ivaldi". Assim, eles fizeram presentes para Odin, Frey e Thor, cada deus recebeu dois presentes, um desses foi o martelo de Thor, Mjölnir.
"O mestre construtor"
Os deuses estavam preocupados com a invasão dos gigantes, seus principais inimigos, em Asgard. Um estrangeiro apareceu e sugeriu construir um muro de proteção, em 3 estações, mas queria a mão de Freya em casamento, o Sol e a Lua. Então foi desafiado a construir em uma estação apenas e sem ajuda de ninguém, só de seu cavalo. E assim foi, os deuses não queriam cumprir com sua palavra, logo, Loki tratou de trapacear, se transformou em um égua e distraiu o cavalo do estrangeiro. O muro não ficou pronto no tempo combinado, o estrangeiro foi descoberto: era um gigante disfarçado. Não teve a mão de Freya, nem o Sol e a Lua.
"Os filhos de Loki"
Loki era casado com Sigyn e com ela teve Vali e Narvi. Tinha ainda como amante a gigante, Angrboda, e com ela teve Jörmungund, a serpente de Midgard; Hel, a governante do mundo dos mortos; e Fenrir, possuía forma de lobo, mas agia como humano.
"O casamento incomum de Freya"
O martelo de Thor foi roubado por um gigante e ele desejou, em troca da devolução do martelo, a mão de Freya. Thor foi disfarçado de Freya ao mundo dos gigantes , arrumado para casar. E foi um jantar muito divertido. E, óbvio, Thor não casou com o gigante e teve seu martelo de volta.
"O hidromel da poesia"
Kvásir, criado da saliva dos Aesir com dos Vanir, em sinal de conciliação entre os clãs, era conhecido como "o sábio", decidiu peregrinar pelos 9 mundos. Quando chegou ao mundo dos anões, encontrou com Fjalar e Galar, os quais o mataram e pegaram seu sangue para fazer um hidromel, bebida dos nórdicos, e ficou conhecido como "o hidromel da poesia", que passou a ser uma preciosidade conhecida em todos os mundos.
"Thor na terra dos gigantes"
Na terra dos gigantes, Loki, Thjálfi e Thor foram desafiados a competir com gigantes. Loki disputou comer; Thjálfi, correr; e Thor, beber, lutar com a velha ama do Senhor do gigantes, Utgardaloki, e levantar o gato do gigante. Eles foram derrotados em tudo e quando se despediam para ir embora, Utgardaloki confessa que os iludiu, na verdade, o gigante que disputou com Loki era o fogo, que consome tudo mais rápido do que qualquer coisa; com Thjálfi era o pensamento, ninguém vence sua velocidade; e Thor bebeu a água do mar, lutou com a velhice e tentou levantar a serpente de Midgard. Isso fez com que os gigantes os temessem como nunca e para sempre.
"As maçãs da imortalidade"
Loki, Thor e Hoenir, o responsável por dar a razão aos humanos, em uma de suas missões, estavam famintos, encontraram bois e tentaram comê-los, mas o fogo não os consumia. Até que uma grande águia, sugeriu a solução, mas queria parte da comida, só que ela pegou muita coisa. Loki tentou detê-la, e quase morreu, suplicou por sua vida, em troca, a águia exigiu Iduna, a deusa imortalidade. Assim foi. Mas os deuses começaram a envelhecer e fizeram Loki buscá-la novamente, depois de descobrirem que ele era o culpado pelo sumiço de Iduna. Ele a raptou de volta e teve briga entre os deuses e os gigantes. A filha de Thiazi, o gigante que se disfarçou de águia, voltou para vingar seu pai e arrumou um casamento, com o pai de Frey. 
"A história de Gerda e Frey"
Frey era quase perfeito e tinha tudo, além da consideração de todos, mas sentia que lhe faltava algo. Foi até o trono de Odin e observou os nove mundos. Avistou Gerda e a desejou. Pediu que seu mensageiro, Skínir, a buscasse para ele. Gerda aceitou e se casaram. Frey descobriu o que faltava. Ele deu sua espada, que lutava sozinha, ao seu mensageiro, o que lhe fez falta e custou sua vida no Ragnarök.
"A pescaria de Hymir e Thor"
Thor foi com Tyr à casa da mãe desse, no mundo dos gigantes, pegar o caldeirão, exigido por Aegir, o gigante do mar, a fim de lhes fazer um banquete. Ao chegarem, Thor foi apresentado por Tyr como Veor, pois ele era o maior inimigo dos gigantes, então deveria se disfarçar. Hymir, padrasto de Tyr, era o dono do caldeirão que fazia as melhores cervejas, logo, Thor e Tyr deveriam convencê-lo a entregar o caldeirão a eles. Thor foi desafiado a pescar com Hymir, depois, a quebrar sua caneca inquebrável, só assim poderia levar o caldeirão. E conseguiu.
"A morte de Balder"
Balder, filho de Odin e Frigga, o mais belo de Asgard e amado por todos, menos Loki, tinha pesadelos estranhos. Seu pai buscou saber seus significados pois temia suas consequências. Foi consultar a uma feiticeira morta, na qual Angrboda se disfarçou e disse que, em breve, ele estaria no mundo dos mortos. Frigga, ao saber disso, fez com que tudo que existisse, desde a natureza até os deuses, jurasse que não mataria seu filho. Assim o fizeram, mas ignorou um visco, trepadeira de outras árvores. E foi desse visco que Balder morreu, por intermédio de Loki. Odin sugeriu que alguém fosse até Hel resgatar Balder, Hermód se voluntariou e foi. Hel disse que o deixaria voltar à vida, se todos chorassem a morte de Balder, mas Loki, disfarçado de uma velha gigante, não o fez, impedindo o retorno do deus tão querido. Isso despertou a intolerância dos deuses.
"Os últimos dias de Loki"
Loki sabia que deveria estar com seus dias contados, então foi para uma montanha se esconder, vivia em uma cascata, em forma de salmão. Thor e Kvásir, o sábio, o capturaram e seus dias foram os piores até o Ragnarök, o fim de tudo. Presenciou a morte de seu filho sendo morto pelo irmão e suas vísceras serviram de correntes a Loki, preso na montanha. Além disso, a gigante Skady, pendurou uma serpente sobre ele, cujo veneno o queimava e a cada momento em que pegava em sua pele, havia um terremoto no mundo. Para aliviar um pouco tudo isso, Sigyn, a esposa de Loki, segurava uma tigela, em cima da cabeça dele para que o veneno não o atingisse, mas quando a tigela enchia, ela precisava jogar o veneno fora, e os terremotos aconteciam.
"Ragnarök: o destino final dos deuses"
A grande batalha final entre os deuses, gigantes, mortos e vivos. Quase todos os deuses morrerão, os mundos também serão destruídos. Alguns deuses vão "ressuscitar", os filhos de alguns sobreviverão e inaugurarão um novo mundo dos deuses, em cima de Asgard destruída. E o mito termina como qualquer outro com a impressão de que vai continuar, sem um fim, nos deixando o gostinho de "quero mais".

As narrativas mitológicas explicam muitas coisas sobre nossas culturas e costumes hj, além de ser um lugar em que a literatura existe de maneira encantadora, mágica, criativa e impressionante. A literatura clássica é base, ferramenta e, algumas vezes, modelo para a criação da literatura hoje. Os clássicos nunca morrem e são sempre novos a cada releitura, já dizia Ítalo Calvino.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤

sábado, 9 de maio de 2020

Grupo de pesquisa - "Poesias e outras artes" - Lúcia Santaella



Santaella, Lúcia. Poesia e outras artes. Casa, Vol.9 n.2, dezembro de 2011 (p. 1-17).

A autora inicia explanação já defendendo que a relação da poesia com outras artes é complexa por dois motivos: pelas alterações que essas relações sofrem ao longo do tempo e por serem híbridas, devido às suas maneiras de se propagar. Diante disso, ela se propõe a apresentar a poesia sua relação com a música, com as artes visuais e as diversas mídias que as propagam.
Apresenta a importância da semiótica (estudo dos signos e seus sistemas) para a literatura, mas aponta a reflexão sobre a sua utilização, já que privilegia a letra em detrimento de outras formas literárias que abrangem a oralidade, por exemplo, mas seu objetivo principal não é este.
Santaella finaliza seu texto pontuando brevemente as mais diversas ferramentas multimídias da literatura, da poesia, da música e das artes, que saiu do papel, da impressão e passou ao vídeo, às telas, ao e-poesia. Isso não precariza ou extingue a literatura, mas expande sua propagação e permanência no mundo. Cabe ainda destacar o quanto isso dificulta uma conceituação do que é poesia, música e artes visuais, já que essas intermídias geram hibridismo tais produções.

Link de acesso à resenha completa:
http://lendocancao.blogspot.com/2020/04/resenha.html

quarta-feira, 6 de maio de 2020

"Mulheres empilhadas" - Patrícia Melo



Mulheres empilhadas - Patrícia Melo (238p. [L.13/abril-2020])

A leitura desta narrativa foi feita em PDF, obra cedida e indicada pela minha amiga Dai, a mesma que leu comigo o livro da Cassandra.
Que história! Que autora!! Foi uma leitura-viagem profunda ao Acre; às tradições indígenas do estado; ao feminicídio (homens que matam mulheres por serem mulheres); à retomada (ou nunca finalizada) República do café com leite (República Velha), predominante na década de 1920 no Brasil; e às injustiças, que nunca deixaram de existir por aqui, mas ainda choca ver esse tipo de coisa acontecendo atualmente, após tantos anos e tantas leis e avanços nos direitos.
Na abertura de alguns capítulos, Patrícia narra brevemente a morte (fato real) de uma mulher assassinada por seu companheiro, intituladas por números cardinais (1, 2, 3.. 12). Em outros, tinham narrativas de experiências da protagonista na aldeia com os índios, que mais pareciam devaneios, mas depois se entende o que são, eram representadas pela descrição das letras do alfabeto grego (alfa, beta... as 7 primeiras letras); e os capítulos, a narrativa fictícia em si, pelas letras do alfabeto português de A a Z. Isso deixou a narrativa bem confusa, a princípio, porque não se sabia o que era a história ou realidade, o que era real ou sonho, devaneio e alucinação na própria história ou na realidade, mas, no final, deu tudo certo.
A história é sobre uma advogada, de São Paulo, que foi transferida para fazer uma pesquisa sobre feminicídio no Acre e fazer uma espécie de dossiê a esse respeito, a pedido de sua chefe. Sua mãe tinha sido vítima desse crime, o que contribuiu para que ela trabalhasse nessa área e, como não é difícil de acontecer com uma mulher, também foi vítima de relacionamento abusivo, mesmo lidando com essas histórias e incentivando mulheres a se libertarem desses relacionamentos antes de suas mortes, consequente e certeiro final. A forma com que ela descreve o ciclo da violência contra a mulher, o quantos as vítimas se tornam as culpadas, o quanto os homens que violam não têm "cara" de que fazem isso, é muito real, muito detalhado, parece que a autora viveu tudo que escreveu.
O crime principal se dá em torno do assassinato de uma índia, Txupira, após ter sido estuprada, ter sofrido violências brutais por 3 rapazes, filhos dos "donos" e descendentes do fundadores do Acre. Saíram impunes de seus crimes. Então a saga começa. Carla (advogada da família de Txupira) e seus "namorados", Rita (a jornalista), seu irmão e a protagonista estavam e acabaram todos envolvidos nesse caso, buscando por justiça. As pessoas começam a morrer, dos dois lados da história, e se desenrola a busca pelos assassinos com ameças, perseguições, violências, compra e venda de direitos: um palco para as injustiças mais bárbaras.
É muito interessante como o Acre é descrito, inclusive a história do lugar, a predominância indígena e o descaso dirigido aos indígenas, que são considerados nada. A autora aborda ainda alguns rituais e costumes indígenas, dos quais os personagens participaram, a protagonista, inclusive, narra uma história paralela muito instigante. Existia o uso de enteógenos ([cipó, Ayahuaska] substâncias naturais que despertam uma consciência pura, induzindo ao estado de êxtase), havia referência à religião Santo Daime. Eu achei o máximo rever essas referências. Além disso, teve a descrição de algumas lendas mitológicas, como a da deusa solitária Takuna, o Sol e Zimu, que deram origem ao mundo e tudo que nele há. Eu amo mitologia! Inclusive, houve referências da autora a outras literaturas, como a grega também, dando a entender que a protagonista gostava e conhecia muitas coisas. Ao final da história, ela faz referência a duas músicas de Paul McCartney, o que amei!!
A revolta da "Liga da Mulher da Pedra verde", mulheres da aldeia que se reuniam para vingar as mulheres vítimas de homens me fez lembrar o filme "Doce vingança", o qual já vi todos (rs). Com muita violência, e que, no fundo, pode causar um alívio e desejo de ser realidade, as mulheres matavam brutalmente os criminosos, sem pena. 
A história tem muito suspense, até terror, acelera o coração, te deixa pensando horas após cada dia de leitura, revolta ainda mais, preocupa mais, mas também precavê, alerta, empodera, liberta as mulheres. É um livro com poesia, contos, e no fim, é um romance que abrange tudo isso. PERFEITO!
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤
* Curiosidade 1: O desenho da capa do livro é a junção de "O nascimento de Vênus de Boticcelli e "O nascimento de Oshun", de Harmonia Rosales.
* Curiosidade 2: A protagonista não tem nome porque qualquer mulher pode ser a protagonista dessa história (Dai, 2020) rs.. Eu amei essa informação!
* Curiosidade 3: Segundo informações da Dai, ao pesquisa sobre Patrícia e o livro, a autora foi alvo de crítica por não ter ido ao Acre pesquisar sobre o lugar, por ter enviado uma pessoa de sua confiança para isso. Mas achamos essa crítica totalmente irrelevante, pois isso não foi motivo para faltar emoção e percebermos o prazer da autora em escrever e sobre este assunto.
* Curiosidade 4: Para muitos, ela é considerada autora de gênero policial, sendo comparada ao Rubem Fonseca, mas ela se considera autora de ficção urbana, o que acho que faça mais sentido realmente. Ela é incrível!

domingo, 3 de maio de 2020

Grupo de pesquisa - "Poesia e pensamento abstrato" - Paul Valery


Paul Valery. Poesia e pensamento abstrato (p. 201-219).

Este é um texto que me soou uma teoria literária e me põe dúvidas pela forma tão desprendida e sem
utilização de tantos conceitos e referências a outros autores e filósofos de forma tradicional, o que não
deixou de ser complexo, e pode ter sido pelo fato de não estarmos acostumados a ver teoria, filosofia
dessa forma. 
Valery abordou sua experiência enquanto poeta e pensador para afirmar suas teorias, reafirmar suas
referências e criticar outras basilares dessa contradição entre poesia e pensamento, mais
precisamente o pensamento abstrato, que, para ele, não deveria existir, já que poesia não é só o que
seria o poético, é também as complexidades compostas no pensamento (reflexões, decisões,
escolhas e combinações). Isso, no fundo, não se separa da poesia e de seu fazer, afinal, poesia e
pensamento não necessariamente tenham que ser coisas separadas.
Tal afirmação trouxe sentido à introdução do autor, ao definir seu trajeto, começando pela linguagem
e suas abordagens de explicações pelo dicionário e pelo seu isolamento, ou seja, a análise das
palavras sem um contexto, que gera diversos significados. 
Mais uma vez, a voz (em ação: timbre, entonação, performance, entre outros) foi abordada como a
própria linguagem, e não apenas como um mecanismo desta, afirmando que apenas palavras (signo)
não são suficientes para dar sentido e gerar compreensão. Vale destacar que o autor usa o exemplo
da música para melhorar tal compreensão, o que é objeto de nosso estudo, canção e poesia.
Dito isto, um poeta só é designado como tal quando gera um leitor inspirado, não apenas pelo seu
estado poético.