Pesquisar este blog

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Desafio Leia Mulheres abril: "Eu sou uma lésbica" - Cassandra Rios


Desafio Leia Mulheres mês de abril - Temática LGBTQ
"Eu sou uma lésbica" - Cassandra Rios (143p. [L.12/abr-2020])

O que foi este livro, senhorxs?!! Esse desafio LeiaMulheres só contribui pra que eu conheça mulheres incríveis e suas histórias maravilhosas.
Cassandra é uma escritora que viveu e produziu na ditadura militar e foi censurada e mal-interpretada na época, pois criticava o lugar da mulher na sociedade e falava sobre sexualidade. Hoje, uma referência nacional inegável!
Não sei se essa narrativa funcionou como parte de uma autobiografia (ou uma completa), questão antiga sobre autores e suas histórias "fictícias". A protagonista, Flávia, narra sobre o começo de sua vida lésbica na infância, que qualquer lésbica se identificaria. É muito importante esse tipo de literatura, pois mostra que mulheres lésbicas e bi não estão sozinhas e contribuem para que pessoas que não sabem o que é ser homossexual tentem entender como é ser.
Ela descreve como vivia isso na infância, sem perceber ainda o que acontecia, já que, socialmente, existe um tabu e preconceito com a naturalização de se falar sobre sexualidade nesse período de vida, ainda mais quando se é mulher.
É impressionante como ela descreve os efeitos do primeiro beijo em uma mulher, o quanto isso vai além de desejo: é uma questão de identidade, de ser para si e ser no mundo.
Além disso, ela destaca a questão do estereótipo preconceituoso do que é ser lésbica, com base nesta ideia, Cassandra mostra que a mulher lésbica não tem que se parecer com um homem, tanto fisicamente como nas ações. E este é um preconceito que se reproduz entre as próprias lésbicas, o que continua oprimindo essa população. A mulher não precisa "performar um macho", é importante gostar de ser mulher enquanto lésbica.
Seguindo nessa ideia de desconstruções e de embates com o que nos intriga, ela traz a questão do ódio aos homens, bem comum entre as lésbicas, mas isso não tem que ser uma regra também, segundo ela e com base na teoria feminista. Existe preconceito tanto das lésbicas, quanto de quem não conhece o movimento. Não que não se tenha motivos para isso, mas a não generalização é imprescindível para a eficácia da luta contra o machismo.
Outra coisa que me encantou foi as referências às teorias freudianas, as quais ela não percebia ou não achava que existiam em sua vida. Para Flávia, seu passado não influenciava em nada em seus problemas do presente.
Chamou muito a minha atenção a forma como a sexualidade infantil feminina foi abordada na narrativa, isso me fez querer compartilhar a leitura com algumas amigas para discutirmos sobre. Já que é uma coisa que me intriga desde que li "Lolita", de Vladimir Nabokov. Conversando com uma amiga sobre, ela me fez ver o quanto a sexualidade infantil feminina precisa ser normalizada, como a dos meninos costuma ser e percebi que eu precisa desconstruir um preconceito. Isso me fez ver as coisas de uma outra maneira. Eu amei! Além disso, ela criticou o título do livro, que poderia ter sido melhor (rs); partes da narrativa, como a do carnaval, que pareceu um pouco solta e que poderia ter abordado mais "cenas" entre Núbia e Flávia, coisas que também concordei.. Enfim, o livro foi ótimo e autora admirável por ter sido tão ousada em plena ditadura militar.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤
*Curiosidade: Criptandro é uma planta a qual Flávia se refere como sendo ela. A corresponde à característica de vegetais que não possuem órgãos masculinos aparentes. Ela não gostava da palavra "lésbica" e preferia se definir assim, tendo seu "órgão não aparente" guardado dentro da boca.
*Curiosidade 2: O termo "gilete", que aparece na narrativa era destinado a bissexuais, ou seja, aquele que "corta para os dois lados". Eu ri quando li, porque já ouvi minha mãe dizer isso há muitos anos atrás.

Site disponível para download do livro:
Na busca por um livro de temática LGBTQ em PDF descbri esse site perfeito de referências bibliográficas de histórias e assuntos lésbicos de autoras, acredito que lésbicas, senão a maioria.
Sink da Lesboteca (Biblioteca lésbica. Perfeita!!):
Pela primeira vez na vida, li ouvindo música, por causa da barulhada que estava na minha casa, foi muito legal! Mas ainda prefiro o silêncio para me acompanhar nas leituras. Segue os links das que ouvi:
Links do instrumental de Pink Floyd:

Grupo de pesquisa - Ritmo e melodia em poemas lidos e musicalizados - Judson Lima


LIMA, Judson Gonçalves de. Ritmo e melodia no pema lido e musicado: alguns exemplos do repertório brasileiro. Capítulo: 3 - Análises de ritmo e melodia em poemas lidos e musicados (p. 35-104).

O autor se utiliza de dois programas de software para analisar os poemas/canções em destaque recitados e cantados, são eles: “Maresia”, de Antônio Cícero, autor do poema e musicado por Adriana Calcanhoto; “Circuladô de Fulô”, poema de Haroldo de Campos, musicado por Caetano Veloso; “Rondó do Capitão”, poema de Manuel Bandeira, musicado por João Ricardo e Ney Matogrosso interpretou; e “Água Perrier”; outro poema de Antônio Cícero, musicado por Adriana Calcanhoto]).
Uma das coisas que ele pontua como essencial nessas análises e comparações é a acentuação das palavras, na fala e na canção, que, muitas vezes, fogem às normas gramaticais, mas os sentidos não deixam de ser claros e cumprir o objetivo proposto pelo poeta ou intérprete.
Mais uma vez, o contexto individual influencia nas interpretações, ou seja, os motivos que levarão o leitor a empregar certas particularidades à leitura do poema dependerá de cada leitor. A música não entra muito nessa diversidade, afinal, a melodia e a performance já tendem a direcionar as interpretações, mesmo que certos contextos determinem interpretações diferentes.
Foi interessante conhecer essa maneira tão peculiar e específica da área musical de analisar a voz, já que, enquanto pesquisadores da música popular brasileira, obter tal entendimento contribui para a melhora da nossa análise, um conselho que Meller (segunda resenha do grupo, postada aqui) deixou ao final de sua tese.

Link de acesso à resenha completa:
http://lendocancao.blogspot.com/2020/04/resenha-ritmo-e-melodia-no-poema-lido-e_17.html

"A viuvinha" - José de Alencar



A viuvinha - José de Alencar (63p. [L.11/abr-2020])

Essa narrativa me pareceu outra carta à prima do mesmo narrador de "Cinco Minutos", só que, agora ele não conta uma história sobre si, mas a de seus vizinhos. 
Nesta história, o amor de Jorge e Carolina é o principal protagonista, mas a relação com a vida e o dinheiro, a fortuna e a miséria, a morte, o suicídio como saída para as desilusões financeiras marcam maior parte dessa narrativa. Há ainda mistério e uma confusa ideia de que faltam partes  da história porque chega uma hora em que a linearidade não faz mais tanto sentido, mas, no final, tudo se torna claro, percebe-se que não houve falta ou confusão alguma e isso me fascina!
Jorge recebeu a herança do pai, mas gastou tudo apenas com futilidades e quando decide casar, descobre que não tem mais nada além de dívidas e entra em pânico. Busca por possibilidades para solucionar seus problemas, "novos personagens" aparecem, parece que a história termina aí, sua esposa o aguarda, ou melhor, se guardava fielmente por ele, mesmo não esperando seu retorno, acreditando em sua morte.
E o final disso tudo é incrível, o amor retoma seu papel principal e aqui reafirmo um spoiller: Carlota e seu amado são vizinhos/amigos íntimos de Jorge e Carolina.

O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤
*Curiosidade: Outro romance-folhetim, capítulos publicados em jornais. Publicado no ano seguinte ao "Cinco Minutos" (1857) e também se tornou um romance, anos depois. 

quarta-feira, 22 de abril de 2020

"Cinco minutos" - José de Alencar




Cinco minutos - José de Alencar (63p. [L.10/abr-2020])


Eu amei! Tive que ler este livro para a pesquisa que faço sobre esse autor, já era apaixonada por ele, foi uma leitura rápida, simples, atrativa e que prende a atenção. Sou suspeita em dizer porque amo os clássicos, literatura brasileira e romance (gênero literário).
A história é sobre um homem que narra sua experiência de se apaixonar por uma moça no ônibus (ele nem viu seu rosto) à sua prima, por meio de uma carta.
A narrativa é cheia de devaneios, sofrimentos (até por antecedência), culpa, arrependimento, dramas profundos (chega ser cômico tanta melação), a descrição e a vivência do amor como uma poesia, a natureza sendo descrita como se fosse uma paisagem e se tivesse vida, características comuns ao Romantismo, período literário da época em que o livro foi escrito (séc. XIX - 1856).
Carlota, a protagonista, estava doente e entre doença e sanidade, morte e vida, tentava e acabou vivendo esse amor com seu amado. Entre idas e vindas, encontros e desencontros, chegadas e partidas, aventuras e desventuras, imaginação e realidade, cismas e certezas, esse amor, essa relação sobreviveu. Amor este que o narrador ressalta que só existiu por causa de Cinco minutos de atraso, causado por ele quando se destinou a encontrar seu conhecido e acabou tendo que pegar o ônibus do horário seguinte, no qual Carlota estaria e esse grande (e louco) amor surgiria.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤
*Curiosidade: Este livro não foi escrito para ser um livro (romance). Seus capítulos eram publicados em edições de jornal, o que atraía o leitor à compra por se prender a história, era como se fosse uma novela no jornal, os chamados folhetins.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Grupo de pesquisa - "Língua, ritmo e vida" - Henri Meschonnic


MESCHONNIC, Henry. Língua, ritmo e vida. Capítulos: 4- Oralidade e literatura  e 5- A oralidade poética da voz (p. 15-66).

O texto tem muitos conceitos da Linguística (parte das Letras que estuda a linguagem e suas estruturas) ou que são definidos por ela (língua, semântica, semiótica, sintaxe, significado, significante, sentido, signo, dupla articulação, da linguagem, etc. [o que me gerou uma dificuldade de compreensão, já que tenho problemas com linguística rs]) a fim de abordar sobre linguagem, comunicação e a importância da voz enquanto elemento essencial para a existência delas, pensando na voz não como instrumento ou parte do corpo, mas como a própria linguagem.
O autor aborda a diferença e/ou a complementaridade entre língua falada e escrita, usa a definição e o método de explicação de alguns autores que apresentam a bipartição ou tripartição da literatura (fala e escrita; oralidade, fala e escrita; fala, escrito e escritura) para definir a oralidade e melhor compreendê-la. Os autores acabam retomando a tradicionalidade desse estudo e a fala se opõe à escrita, o que é um erro.
Em resumo, todos (fala, língua falada ou escrita, escrito, escritura, tradução, edição, etc.) dependem da oralidade para existir. É importante que se tome cuidado ao fazer essas transformações da oralidade, para que esta não se perca ou seja morta pelo desejo de eternizá-la ou de torná-la um material para estudo.

Link de acesso à resenha completa:

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Coleção histórica marvel: Wolverine (Vol. 5)



Coleção histórica Marvel: Wolverine (nº. 24 - Vol.5) - (164p. [L.9/mar-2020])

Essa é uma História em Quadrinhos (HQ) da Marvel sobre episódios do Wolverine. Descobri q eu gosto dele mais do q imaginava. Nos filmes, ele parece um grosseirão e impulsivo, mas na HQ ele é mt calculista, racional, justo e inteligente. Nos filmes, ele tb é inteligente e caladão, só fala qnd necessário e pra soltar suas frases de efeito impactantes.
Nos capítulos desse livro, ele defende os injustiçados e oprimidos, usando seu poder para o bem, típico de todo herói. Esses episódios retratam a vida de Wolverine depois que escolheu não ser mais um X-men. Foi viver em Madripoor, na Ásia, escondido e a fim de esquecer sua vida anterior, apresenta-se como Caolho e tinha a intenção de desvendar sua real identidade, mas as circunstâncias não o permitiram manter esse disfarce.
Os capítulos são:
Rainha da neve
(Esse não é o título do que seria o capítulo, mas fala sobre essa rainha).
Neste capítulo, ele protege crianças que viviam em situação de rua de uma mulher pouco paciente e que pretendia tirar a vida de um deles por ter furtado sua mala, com coisas valiosas. Ela também tinha super poderes e lutou com Logan.
"O herdeiro"
Ele faz a segurança do filho de um antigo parceiro, ao qual lhe devia favores. Logan conta uma história para o menino dormir, sobre a sua vida. Eu não sabia que ele tinha sido expulso de casa, de sua comunidade por ser considerado um fraco, covarde e inútil por seu pai. Na floresta, com animais temidos por humanos, ele descobriu que tinha seus poderes e se encontrou entre os bichos. Na casa do parceiro, há um confronto e o menino se inspira na história de Logan para defender seu pai.
"Lembranças de paz"
Wolverine vai à casa de um amigo em busca de um favor que lhe devia, apostaram no poker, ele ganhou e pediu o que o perdedor menos esperava. Ele tinha um sobrinho, herdeiro de toda sua fortuna, que não era dos mais leais, e aí, já viu no que deu: brigas, disputas e justiça feita.
"O projeto lázarus - Parte I: Presa e predadores"
Esse era um projeto de pequenos grupos mafiosos que detinham poder nas cidades e usou uma cidade simples, humilde e um sonho de convivência humana para ser a guardiã da matriz mestra, de extrema importância para eles. Wolverine descobre que existe algo de errado e vai em busca de respostas, mas é atingido e tem apagões em sua memória.
"Parte II: O estranho"
Diante disso, Wolverine sai desnorteado e chega à Ilha , onde está guardada a Matriz Mestra. Ele não lembra de nada, é muito bem recebido, em gratidão daquele povo por ter protegido um dos pescadores, então, passa a viver lá até se descobrir.
"Parte III: O caminho de volta"
Existe uma manipulação e traição de um dos comandantes, a cidade é atacada, todos morrem, mas Wolverine, a sobrinha do chefão da máfia e um dos soldados moradores da Ilha, que sobreviveu ao ataque, desvendam os mistérios e decidem lutar para acabar com tal injustiça.
"Conclusão: Assuntos de família"
Nesse projeto, se criou uma tecnologia de manipulação humana, que tornava pessoas em robô sem deixarem de ser humanas. Nesse contexto, há a revelação de como as pessoas que montam projetos desse tipo não se importam com pessoas, famílias, vínculos, acham que pobres e desvalidos são nada. O que não é muito distante da nossa realidade. Super-heróis são mt um sonho rs

Adorei! As histórias não têm tantos detalhes como os romances (gênero literários), mas, talvez, porque o que tenha que chamar mais atenção sejam os desenhos, e também é uma forma de dizer as coisas, até mais atraente para alguns. E o que importa é ler.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤

*Curiosidade: http://vacanerd.com.br/45-curiosidades-sobre-wolverine/.
Esse site apresenta curiosidades sobre Wolverine e outras coisas desse mundo nerd, do qual não sou super fã, e admito que não conheço mta coisa por smp ter tido preconceito, mas acho muitas coisas interessantes e tô me abrindo pra esse mundo.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Grupo de pesquisa - "Vocalidade em Guimarães Rosa" - Erich Nogueira



Nogueira, Erich Soares (1971) - Vocalidade em Guimarães Rosa. - Campinas, SP [s.n.], 2014.
Os capítulos lidos desta vez foram: 1- Voz, linguagem e literatura; e 2- "Palavras de voz" (p. 9-82).

E foi mais um texto brilhante! Confesso que a parte teórica sobre voz e sua conceituação foi bem densa e complicada, mas se tornou facilmente visual no segundo capítulo, em que o autor aplica o conceito de "vocalidade", de Paul Zumthor, nas obras de Guimarães Rosa.
Nogueira defende, por meio de Cavarero, que a voz é única em cada corpo, logo, não existe voz sem corpo, ela é presença, é relação. A voz implica escuta, demanda um outro, tornando essencial a existência da alteridade.
Para Zumthor, voz porta a linguagem e "não se prende a um significado, procura seu lugar", por isso a "vocalidade" tem mais efeito para explicar a importância da voz do que a oralidade, que, muitas vezes se prende à palavra (letra, signo) e aos seus significados para ter sentido. A voz está além disso.
A grande questão é: existe voz na escrita? Como é possível?
O autor destaca que, na leitura, silenciosa ou não, um outro é evocado, existe uma voz, que gera uma escuta e procura seu lugar para estar, fazer sentido, exemplifica isso com as obras de Guimarães, que abordou a oralidade, demonstrada nas falas de seus personagens, pelos gêneros orais (cantigas, ditados, poemas orais, rezas e diálogos) usados nas narrativas e pelas onomatopeias (som que as coisas e os animais fazem).
Cada dia que passa eu me emociono mais com essa pesquisa. Valorizar a vocalidade, não menosprezando os textos, as escritas, é algo considerado, por muitos, um retrocesso, um desperdício, mas esse trabalho é de uma riqueza encantadora. E isso não é apenas uma "viagem", "coisa de artista", pejorativamente falando, isso é comunicação, é linguagem, é compreensão entre as pessoas, é liberdade de expressão.

Segue o link de acesso ao blog "Lendo canção", no qual se encontra a resenha do grupo completa:
http://lendocancao.blogspot.com/2020/04/resenha-vocalidade-em-guimaraes-rosa.html?m=1

segunda-feira, 13 de abril de 2020

"Memórias póstumas de Brás Cubas" - Machado de Assis

Machado de Assis | Academia Brasileira de Letras

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (183p. [L.8/mar-2020])

Essa narrativa é uma enorme ironia, assim como Machado, seu autor. É um clássico da literatura brasileira, que retrata uma autobiografia ficcional, se é que posso chamar assim, mas seu autor (na história do livro) é um defunto, o que contraria muitas regras literárias e desse fazer literário (a autobiografia), já que um morto não pode escrever. Assim, póstumo é o que acontece depois da morte.
Brás Cubas, personagem da narrativa e o defunto autor, como se intitula, começa a narrar a causa da sua morte, mais uma vez contrariando as coisas, já que numa autobiografia as pessoas costumam narrar seu nascimento primeiro. Em seguida, ele conta sobre sua vida, infância, juventude, nascimento, amores, desamores, a vida política, familiar, e seus casos românticos.
Como em muitas narrativas de Machado, não podemos traçar características únicas sobre suas produções literárias, existem mulheres contrárias ao que a ordem do séc. XIX impunha, elas tinham os homens nas mãos, tem sempre a narrativa da forma como “suas vítimas”, os homens apaixonados, ficam loucos com mil pensamentos de dúvidas, desconfianças, sentimentos de trouxa. Tem ainda alguns casos de interesse nas relações, traição e seus suspenses, descrições de realidades pesadas, muitas vezes, tratadas com naturalidade e conformação, dando um tom de pessimismo às coisas.
Como todo clássico, tem a linguagem um pouco diferente da nossa atualidade, mas Machado é o clássico mais apaixonante de ler, usa mecanismos que nos fazem sentir parte de história ou como se ele tivesse contado diretamente para nós, como se tivéssemos sentados em uma mesa, conversando. Ele é irônico e divertido, filosófico e faz ótimas referências e ligação com outros autores, obras (principalmente a Bíblia e a mitologia grega <3), e personagens e a sua narrativa.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤
*Curiosidade: “Quincas Borba” e “O alienista” são outras duas obras de Machado de Assis e ele faz referência a esses personagens neste livro, que casam com a descrição deles em seus respectivos livros. Por meio deles tratava a questão da sandice e da loucura, e qual era o limite (se ele existia) para determinar a diferença entre as duas coisas ou as definições, simplesmente. Eu achei isso incrível na primeira vez em que li “Memórias”, já tinha lido “O alienista” antes, e li “Quincas Borba” depois.

sábado, 11 de abril de 2020

Grupo de pesquisa - "Algumas considerações e modelos de análise da canção popular" - Lauro Meller


"Algumas considerações e modelos de análise da canção popular" - Capítulos 3 da Tese "Poetas ou cancionistas? Uma discussão sobre a canção popular brasileira em sua interface com a poesia da série literária" (p. 46-101)- Lauro Wanderley Meller

Esse foi mais um trabalho do nosso grupo de pesquisa (da semana retrasada rs) e foi maravilhoso ler o capítulo em destaque. O autor escreve muito bem, prende a atenção, instiga a continuidade da leitura, fez uma pesquisa sobre música, performance e canção popular incrível e faz considerações mais encantadoras ainda.
O capítulo tem como objetivo questionar se os profissionais das Letras são aptos ou os melhores profissionais a analisar canção popular, além disso, Meller apresenta modelos de como fazer esse trabalho de forma eficaz, que não perca nenhum aspecto essencial para uma análise "completa".
Ele divide o capítulo em 5 partes para criar uma metodologia de análise da canção, por meio dos seguintes teóricos:
1- Simon Frith - aponta o juízo de valor da canção: poema é diferente da letra de canção, as palavras se dão em performance, não são apenas palavras; 
2- Luiz Tatit - aponta conceitos para análise de canção (figurativização, passionalização e tematização);
3- Phillip Tagg - com o conceito de "musemas", partes constituintes de uma canção. Nesta parte, ele faz uma análise perfeita sobre a música "A hard day's nigth", dos Beatles, e suas mais diversas versões.. Eu enlouqueci com essa tese!!;
4- Barthes -  relata o quanto as estruturas da música geram emoções em seus ouvintes;
5 -  Paul Friedlander - destaca a função da canção, ou seja, o fim para o qual ela se destina.
Meller conclui que estes métodos de análise têm o objetivo de tornar o acesso à canção popular mais viável. Destaca que deve ter, por parte do pesquisador interesse pela teoria musical e do mero ouvinte, interesse pela teoria de análise da canção.
Eu amei esse capítulo porque, além de tudo exposto, ele faz referências perfeitas a músicas e cantores da MPB, como Paulinho da Viola, Elis Regina, Edu Lobo, Chico Burque e muitos outros, busquei conhecer outros como Vicente Celestino, Adoniran Barbosa, Nelson Gonçalves, Cartola.. Me apaixonei! Teve ainda muitos outros brilhantes artistas e poetas brasileiros, citou também referências estrangeiras que amo, como Pink Floyd, Beatles, Queen, Bob Dylan, *...* Eu mergulhei nessa tese, na arte, na literatura, na música.. A minha quarentena está incrível! Muitas emoções.
Acesse ao nosso texto e degustem um pouco mais sobre esse trabalho incrível, se desejar o arquivo original, é só pedir.

Link de acesso à resenha coletiva:

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Significado da palavra "CORONA" e sua ligação com a poesia


"E pois coronista sou: formas virais da poesia"
Eduardo Guerreiro B. Losso

Este texto é um dos mais incríveis que li em 2020!
É bom saber que existem coisas boas acontecendo em meio a esse caos mundial que é o corona vírus. Sinceramente, eu não aguento mais ouvir falar disso, não vejo televisão mais (o que eu já não fazia muito) e me recuso a estar por dentro disso nas redes sociais. Mas este texto "me salvou" e fez ver, mais uma vez, como a literatura nos ajuda a sobreviver.
Losso apresentou a etimologia da palavra "corona", ou seja, a origem de seu significado e os que se modificaram ao longo do tempo, e se baseou, principalmente no poeta da oralidade, Gregório de Matos (viveu no séc. XVII, na Bahia), se reconhecia como um "coronista", o que hoje entendemos e conceituamos como cronista, ou o que faz crônicas, mas a palavra "cronista" também sua etimologia específica.
O autor questiona se Gregório não se intitulou "coronista" por ser, como entendemos no atual contexto, realmente um vírus/parasita intracelular, que se coroou soberano entre "os animais e exigiu seu espaço de poder", como faz o vírus. Losso desenvolve seu texto justificando a existência de Gregório e seus poemas como uma pré-visão do que temos agora ou uma analogia (pontos comuns em coisas diferentes) entre o poeta, enquanto vírus na sua sociedade e no pensamento social brasileiro, em 1650 aproximadamente, e o coronavírus afetando o Brasil, em 2020.
Ele faz uma comparação brilhante entre o que acontece na palavra e o que acontece no mundo com vírus. O "o" da palavra "coronista" foi chamado de letra parasita, que se perdeu ao longo do tempo e transformou a palavra em "cronista", o coronavírus é a "vogal parasita" que altera a normalidade no mundo, assim como a vogal parasita que altera a palavra.
E segue fazendo comparações entre Gregório, o vírus e outros poetas e poemas, como:
1- Sebastião Uchoa Leite e seu poema "Pensar" (1998); 
2- A peste que existiu na Bahia, em 1686, a qual Gregório descreveu como um monstro de várias cabeças, cujo corte de uma nasceria mais duas (o monstro Hidra de Lerna, do mito de Hércules). Ele apresenta, no poema, que não havia remédio para cura e que poucos teriam acesso a ela, caso existisse, a peste se espelhava e multiplicava devastadoramente e que quem ignorasse às ordens de reclusão, seria punido por seus efeitos, não diferente do que vemos nos noticiários;
3-  Edgar Allan Poe com o conto "A máscara da morte vermelha" (1842), em que o protagonista é um esqueleto mascarado, que simboliza a morte, e atinge à nobreza, comparado à peste de Gregório, que não escolhe classe, cor ou idade para atingir, o que não mascara a desigualdade existente em nosso país, pelo contrário, a expõe ainda mais;
4- Tarso de Melo, "Exames de rotina" (2008), cita o descaso  e falha do Estado ante os serviços sociais públicos, afetando a população mais prejudicada;
5- Roberto Piva, "Poemas portadores de peste", ;
6- Cláudia Roquette-Pinto, com o poema "Blefe", de 1991, no qual ela fala sobre a gripe;
7- Losso defende que somos "cronistas virtuais", com as nossas exposições (escrita, imagética e afins) nas redes sociais.
Conclui com Alberto Pucheu com o "poema para a catástrofe do nosso tempo", que aponta os trágicos resultados dessa devastação que nos assola.

Esse texto foi perfeito pela criatividade, pela analogia, pela rica diversidade de referências e pela forma que o conjunto disso tudo fez sentido e trouxe alento ao coração.

Segue o link do blog em que o texto original se apresenta na íntegra: