O nascimento da tragédia - Friedrich Nietzsche (175p. [L.17/jun-2020])
Esse livro foi a leitura mais aleatória do mês de junho. Eu o comprei ano passado porque minha professora de Literatura Clássica disse que o leríamos neste ano, então, veio a pandemia e tudo parou, mas pretendia lê-lo mesmo assim, porém, sempre adiando. Até que ele foi exigência no grupo de pesquisa "Poesia e canção". Eu COMI esse bonitinho em quase 4 dias e saía das leituras com dor de cabeça, mas fascinada.. Cada dia mais me encanto por Nietzsche e ele se torna meu filósofo preferido! Meu Deus! Que pensamentos, que construções teóricas..
Antes de mais nada, foi de suma importância ler em grupo, o professor explanou sobre, discutimos um pouco em grupo (eu, mais ouvi do que falei rs..) e trouxe um especialista no autor e em sua obra, o que foi perfeito!!
Enfim.. Vamos ao que interessa. Tragédia é um gênero teatral ou dramático da Grécia Antiga. Há algumas etimologias (estudo da origem e evolução das palavras) para "tragédia", mas isso é assunto para outra hora. Este livro é uma homenagem ao amigo de Nietzsche, Wagner, elogiando seu jeito de fazer arte e música. Depois, ele tenta desfazer essa homenagem, devido às divergências com o amigo, o que se torna uma grande piada entre os estudiosos.
O autor inicia suas explicações defendendo, até o fim do livro, que existem dois impulsos para o fazer artístico, baseado nos deuses gregos Apolo e Dionísio. O primeiro, por ser o deus da beleza, do Sol, representava a forma da arte, a beleza dela, a aparência, sem ele haveria o caos absoluto. Nietzsche defendia que, para ser no mundo, a obra precisava de aparência. O segundo, deus do vinho, da dança, da alegria, representava o equilíbrio, o conteúdo, a deformidade, a embriaguez,o desregramento.
Tem como foco o pessimismo, com isso, seu principal "mentor" é Schopenhauer. Trata sua obra como um centauro híbrido, composto pela ciência filológica + filosofia + arte. Cita o mito de Sileno (semideus que instruía e servia a Dionísio), qnd um rei o perguntou o que era melhor e mais preferível para um homem e ele respondeu que era não ter nascido e morrer o quanto antes. Então, para Nietzsche, que se baseia nesse mito para pensar, a tragédia proporcionava um contato profundo com a essência, mas sem despertar o desejo de autoextinção, ao invés de disso, havia um retorno de si "melhorado". Era um aprofundamento de si, mas racionalizado.
Caracteriza o fazer literário de Homero a Sócrates. Entre Platão e Sócrates; Sófocles, Ésquilo e Eurípides destaca que, ao longo do tempo, a tragédia foi morrendo, pois não tinha mais tanta música, que foi reduzida à assistente, existiam mtas explicações, tudo estava mastigado, detalhado demais, isso empobrecia a arte, não levava à reflexão e eterna necessidade de recontar essas história, como bem defendeu Walter Benjamin e Ítalo Calvino, muitos anos após Nietzsche. A tragédia nasceu com a música; suicidou-se com Sócrates e a racionalização, o detalhe exagerado; e houve uma tentativa de ressurreição com a ópera.
O trágico, para Nietzsche, era um conceito filosófico. Defendia a não defesa da existência de uma verdade, não era a favor de muitas explicações, por isso, o clássico nunca envelhece ou se torna ultrapassado.
Eis que me deparo com o ponto-chave da nossa existência em plena quarentena e pandemia: para Nietzsche, a vida funciona como um fenômeno estético (a grosso modo, artístico), assim, a arte transfigura isso e torna a vida possível de ser vivida. O que seria de nós nesse momento se não fosse a arte? Essa foi uma das certezas que tive provas nessa quarentena.
Nietzsche faz uma crítica à moralização da vida. Afinal, a vida é o que a gente diz que ela é. E é assim que deve ser. E como disse Zaratustra (personagem de outra referência do autor): "A vida não tem nada, tem o que a gente coloca nela". E isso não quer dizer que ele caia no relativismo de que cada pessoa pode fazer o que quiser da sua vida.
Curiosidade: Nietzsche era filho e neto de pastores evangélicos. Ao longo da vida, foi questionando suas bases, até que se desvencilhou de tudo. Tornou-se professor de filologia, terminou a vida "louco", aos 40 anos, sob o cuidado de sua mãe e irmã.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤🖤
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