Eduardo Sterzi. Da voz à letra (p. 165-179).
O autor se propõe a discutir sobre a transição da palavra oral (música-poesia) para a escrita, dando origem ao soneto, cujo precursor foi Dante Alighieri, provocando uma nova concepção lírica, diferente do trovadorismo.
Eduardo faz uma breve apresentação sobre o quanto o uso da voz era suficiente e único entre os séculos IX e XIV; além da separação entre poesia e música na lírica moderna, o que foi lamentável para Nietzsche. Sterzi afirma que a lírica é sempre uma passagem da poesia músico-vocal para a poesia escrita", carregando a tensão entre o código musical e um código gráfico" (p. 167).
Dante priorizava as palavras na música, mas ressaltava a importância da harmonização musical delas. Diante disso, Sterzi destaca a diferença entre canção e modulação no que diz respeito à "fabricação de palavras harmonicamente dispostas". Ou seja, se discute se melodias se configuram em canções ou não, e conclui: "a canção não é nada senão uma ação em si completa de quem diz palavras harmonizadas por modulações" (p. 168). Logo, canção, balada, soneto ou toda palavra harmonizada é canção.
Foi na Itália que surgiu essa novidade: o soneto e a poesia, mesmo que a música e a dança fossem tão presentes no país quanto em outras partes da Europa. Lá surgiu uma nova forma "exclusivamente literária que se liberta de uma vez por todas da música e do movimento do corpo", segundo André Jolles. O contexto de "primeiras noções fortes de indivíduo e de interioridade" contribui para esse surgimento (p. 172).
Os poemas passam a não exigir mais a presença do poeta ou de um intérprete para ter validade; a poesia passa a exigir uma relação poesia-vida, texto e experiência, o que gerou um "movimento rumo a uma crescente autonomia do texto poético" (p. 172).
Em nosso grupo, discutimos sempre a importância da oralidade na atual poesia, destacando seu resgate à literatura atual, retomando seu lugar, sem menosprezar a escrita, mas discuti-la e analisá-la como mais um mecanismo de se fazer, ser e ter literatura.
Esse texto nos traz a contextualização de quando, histórico e factualmente, começou a existir a separação entre música e poesia e a possível desvalorização da oralidade. Isso se deu por meio de Dante e a instituição do soneto, deste enquanto literatura, poesia escrita, no qual a música e a dança, e a performance foram "superadas", em princípio, e a leitura prejudicada e silenciada.
É importante destacar como os contextos sócio-históricos, político-filosóficos fazem a literatura de sua época e influenciam para as mudanças, superações e uma nova forma de fazer arte. Foi o que contribuiu de forma relevante à necessidade de superação do trovadorismo e gerou a poesia escrita.
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