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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Miá Couto



Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto (108p. [L.16/maio-2020])

Mais um livro lido em dupla, dessa vez, por indicação do meu amigo Rodrigo Luz. Nossas conversas e comentários sobre cada capítulo foi brilhante, mesmo que não tenhamos terminado juntos. Foi a primeira vez que li com alguém e discuti com tantos detalhes. Rodrigo TB é um apaixonado pela literatura, pela vida, o q só motiva a uma leitura e discussão apaixonantes.
Um dos livros mais viajantes q li neste ano. Eu nunca imaginei que esse título me traria as impressões q me trouxe. Talvez eu pudesse esperar isso, se conhecesse Mia, mas não conhecia. Dizem que ele é do tipo que gosta de jogos de palavras, além disso, percebi que ele é filosófico, crítico e que se importa com a luta de classes, a desigualdade e traz isso em forma de "alfinetadas" nessa narrativa.
A história se passa no continente africano, como parece ser costumeiro nas narrativas do autor. Marianinho, o protagonista, mora no que poderíamos chamar de "cidade grande" do local onde se passa a história, e sua família, na ilha, q seria uma espécie de "interior". Foi convidado por seu tio a voltar à Ilha, pois seu avô estava entre a vida e a morte. Lá, o rapaz faz várias descobertas sobre a família e seu lugar de origem, sobre si e sua história, bem como sobre vida e morte, casa e lar (o que tb parece ser comum em miá de acordo com comentários sobre o autor).
Mia brinca com as palavras e seus significados levando em consideração o sentimento das pessoas. Por exemplo, "tempo" é uma metáfora para rio, o qual transporta pessoas de um lado para outro e tudo q elas têm a fazer é esperar, pensar na vida, reviver momentos na memória; assim como "terra" funciona como metáfora de "casa", pois quer dizer mais q o sentido material q se dá a ela, é pertencimento, é lar, afeto e vivência. O q me lembrou mt Milton Santos, um sociólogo, geógrafo, q falava sobre, e é comumente usado nas brigas que rolam dos governantes de expulsar os favelados de suas casas "por um bem maior", nas políticas de "limpeza" da cidade. Nas discussões entre mim e Rodrigo, falei sobre isso e ele me contou a brilhante história da sua vida que continham a Vila Kennedy e a UERJ, que decidi apresentar em outro post.
O vilarejo q existia na Ilha se acabava a cada dia que passava por conta da exploração daqueles q detinham o poder local. Existe um jogo de poder presente na narrativa.
Outra coisa que chama MT atenção é a relação vida e morte. Não se sabe se Mariano, o avô (?*) de Marianinho, está vivo ou morto, ele não sabe se morre ou se vive, parece que seu espírito caminha indeciso entre a vida e a morte, como se ainda faltasse algo a fazer aqui ou n ser ainda a sua hora. Quase toda a narrativa se passa com ele nesse estado.
Há ainda uma confusão entre sonho e realidade, espíritos e pessoas reais, realidade e pensamento. Nesse contexto descobertas, verdades, mentiras e revelações vão aparecendo.
Com este livro percebi que o que realmente importa é o desenrolar da história, não o final, ele sim diz o que precisa ser dito, além do mais, o autor parece usar todos os gêneros nessa narrativa: contos, romances, poesias, lendas, piadas.. É um livro pequeno, mas mt reflexivo, denso e instigantes. 
Curiosidade: Essa capa diz muito sobre a história. Morte, casa, família, ir e vir de pessoas. A porta de uma casa simples, de um vilarejo, mas que está além disso.
O quanto amei: 🖤🖤🖤🖤

* Quem ler o livro saberá o porquê dessa questão.

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