Neste mês as leituras ficaram bem literárias e eu amo! Vou tentar ser mais acessível possível em minha escrita.
O #DesafioLeiaMulheres do mês de junho era ler uma autora de contos. Como, no mês anterior, eu tinha ganhado de presente (*...* e amei) o livro "Laços de família", de Clarice Lispector, aproveitei a oportunidade, até porque não sabia ainda o que ia ler.
O livro contém 13 contos, pequenas narrativas de ficção, que autora apresenta relatos de cotidianos femininos do início do século XX. A escrita tem muito das características do modernismo na literatura. Neles, há relatos de frustração, não só de um amor desejado e impossível de ser vivido, mas de uma vida idealizada, que não tem como ser real ou que por acomodação ou desilusão se não consegue viver o que se espera.
Os eu-líricos (a grosso modo, quem narra a história na história, um personagem criado pelo escritor, que conta a história) dos contos são todos mulheres, exceto em um, que querem ser no outro ou de outra forma, típico da literatura moderna.
Há o questionamento sobre o papel e os deveres das mulheres na sociedade e, consequentemente, no espaço privado, na família. Essa crítica se dá de forma irônica, mulheres cansadas destes lugares que lhes foram impostos. O modo com que se referem a preceitos cristãos e citações bíblicas também se dá da mesma forma, ou seja, existia uma sátira aos costumes e crenças da época.
Parece ter ainda uma crítica sobre a necessidade de ter dinheiro, a necessidade do ter, o sentimento de possuir, de possessão.
Sentimentos como culpa, ódio, arrependimento, de desejo são bem comuns nesses contos, tornando a leitura intensa, forte, pesada (no melhor sentido da palavra), já que é carregada de sentimentos e vivências cotidianas.
Existem muitas questões de discussão literária, mas não é meu objetivo aqui.
Esta novela (gênero literário) é PERFEITA!! Deus me livre! Acho que a melhor ficção (há dúvidas de que seja exatamente uma) que li neste ano. Eu fiz a leitura em um dia, não dá vontade de parar!
Os poetas do século XX, neste caso, de Portugal, apresentavam em suas literaturas a frustração do sujeito moderno. Porque o eu-lírico (explicado ali em cima) deseja sair de si para ser no outro, descobrir um outro em si, o que gera a frustração, já que isto é impossível.
Uma saída provisória desse péssimo estado de espírito são as sensações e o que elas podem provocar, fazendo com que a arte e literatura tenham um papel imprescindível nesse processo.
Existem diversas interpretações para A confissão de Lúcio, cumprindo bem seu papel de um fazer literário que defende o devir-autor, uma escrita em movimento, ressaltando a intertextualidade, ou seja, a obra se faz em rede, em construção com ela mesma, com outras obras e com outros autores, bem como leitores.
A história, sob uma primeira interpretação, é sobre um homem (Lúcio), que propõe uma confissão sobre o crime que cometeu. E aí entra uma segunda interpretação ou o questionamento do texto, era uma ficção ou uma autobiografia do autor (Sá-Carneiro)? Lúcio era Marta e Ricardo ou não? Parece que ele desejava ser os dois, mas não podia, então, seria melhor matá-los e viver em uma prisão (talvez, interna, pessoal) durante 10 anos para resolver "falar" sobre isso.
Parece confuso e realmente é, mas é maravilhosa esta narrativa!! Eu segui a história pensando que seria uma coisa e, no final, foi outra, que não acabou tão clara. Me gerou diversos questionamentos e eu quase morri quando acabou rs
Eu amo histórias assim, ainda mais quando posso nitidamente trazê-la a vida real.
Bônus:
Este livro está disponível em PDF, online, só clicar: A confissão de Lúcio. Vale à pena, é bem curtinho.
É isto..
Amei! Fiquei na vontade de ler o do Sá Carneiro, instigante demais! O da Clarice eu já li alguns contos, se eu não me engano é desse livro "Feliz Aniversário" que é um soco na boca do estômago e um tapa dos dois lados da cara. Mas é ótimo rsrs amei!
ResponderExcluirkkkkk... Sobre Clarice, é nesse sim.
ExcluirLeia sim, se quiser, empresto. Eu li em um dia. Mt bom!