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sexta-feira, 1 de março de 2019

Desafio fevereiro - "Armadilhas ficcionais: modos de desarmar" e "Persépolis"

Mais um mês, desafio duplo cumprido novamente! ✔✔
Para o #desafio1livropormês escolhi "Armadilhas ficcionais: modos de desarmar", sob a organização de Carlinda Fragale Pate Nuñes. 

                     

Este livro foi indicação do meu professor para ajudar na minha pesquisa sobre poesia e canção, aproveitei o embalo e uni o útil ao agradável. Ele é mais teórico, o terceiro livro de uma série, sendo a primeira "As partes da maça: visões prismáticas do real"; a segunda, "Forçando os limites do texto - estudos sobre a representação".
A obra compõe 6 artigos científicos, desenvolvidos por professoras diferentes, dentre elas a organizadora (parando pra pensar, li mulheres duas vezes neste mês *...*). As autoras apresentaram brevemente e examinaram romances narrativos, com a proposta de mostrar armadilhas que a ficção prega aos leitores e mecanismos para que estes não se deixem levar pelo jogo textual, não se permitam induzir para o que o texto propõe, mas que eles devem jogar o jogo textual como quiserem. Eu achei isso extremamente deslumbrante, porque criticar um romance, no que diz respeito a interpretação e a criação de novos caminhos, reafirma a literatura como algo libertador, sem amarras e livre para a emancipação e criatividade humanas.
Elas trouxeram conceitos como mímeses, que, a grosso modo, seria uma imitação da realidade, mais utilizado no período clássico; e performance, esta vai além da mímeses, levando em consideração que o autor não é isento de influências mil para interpretar uma realidade, assim, a intertextualidade, as referências estão sempre presentes na performance. Na primeira, existe uma observação da realidade e sua experimentação; na segunda, o que há é uma interpretação questionada, tem a interferência do autor pelas suas memórias do que seja a natureza (a realidade, que não é algo dado, é um "processo de autorrealização"), o que caracteriza a literatura moderna, segundo as autores e seus autores de base. 
A apresentação foi feita pela organizadora, introduzindo o livro e os assuntos dos quais as autoras tratariam no decorrer dele. O primeiro artigo foi da autoria de Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba, com o título "Construções do objeto estético: as relações entre mímese/performance e schema/correção", foi o mais conceitual, acredito que para servir de base para melhor entendimentos dos capítulos a seguir.
O segundo é de Carlinda Fragale Pate Nuñez, "Jogos fictícios na Veneza de Thomas Mann", focando nas questões dos jogos textuais e a relação autor/narrador, leitor/texto. O terceiro de Fátima Cristina Dias Rocha, "São Bernardo e Sargento Getúlio: vozes e gestos em contraponto", achei muito interessante a abordagem de autorretrato e autobiografia, além de citar que a narrativa é "recompor a vida pela linguagem". 
O quarto foi de Ana Lúcia Machado de Oliveira, "Sobre a configuração Babelbarroca da prosa minada de Haroldo de Campos", destacando o resgate do autor aos modos de escrever e interpretar seiscentistas, em sua obra "Galáxias", com a questão da dobra, das multiplicidades, intertextualidade, finalizando a ideia de que o texto se constrói no outro, citando Campos, o autor vai se eximindo para dar lugar a um "outro devir", o leitor.
Parece óbvio, mas é importante destacar que jogo textual e suas imposições, bem como o jogo que o leitor escolhe jogar, estão inerentes à língua literária, à forma como o texto é escrito e nas artimanhas que o texto traz. No quinto artigo, de Ana Cristina de Rezende Chiara, "Lori lambe a memória da língua", isso fica bem claro, já que a ponografia infantil passa a ter outro viés interpretativo, segundo sua defesa sobre o livro de Hilda Hilst. Além disso, este foi o texto super interessante, que mais me deslumbrou! Essa professora arrasa mesmo!
E o último, não menos interessante, é de Sílvia Regina Pinto, "Desmarcando territórios ficcionais: aventuras e perversões do narrador". Enfatizou a questão da narrativa e seus tipos de narradores (clássico, moderno, jornalista, testemunha do olhar e performático); da linguagem, afirmando que o processo mimético deve ser democrático, bem como a liberdade para a produção de significados.
Bem, foi isso! E eu amei o livro! Alimentou mais a minha paixão por literatura. Ficou um pouquinho grande e teve mais forma de resenha, mas foi necessário.

#desafioleiamulheres deste mês era uma História em Quadrinhos (vulgo, HQ). Tava desesperada tentando achar uma, porque só conhecia uma e queria ler algo diferente, até que pedi indicação no Facebook e tive ótimas recomendações, achei algumas online, escolhi ler "Persépolis", de Marjane Satrapi.

                

Geeenntee, que história maravilhosa! Li em um dia. Satrapi juntou algumas coisas que gosto muito: autobiografia, história em quadrinhos, política, ditadura, revolução, feminismo, personalidade forte... Aaai.. tô em êxtase! A partir de hoje vou ler mais HQ. É bom demais!
Vamos à história de fato. Marjane conta sobre sua vida, a princípio, no Irã (antes chamado Pérsia). Ela era neta de um imperador da Pérsia, que foi derrubado pela oposição. O período que ela descreve é a guerra entre o Irã e o Iraque, além dos países do ocidente, que queriam o território do Irã por causa do petróleo, principalmente. Existiam ainda as brigas religiosas e as guerras civis por causa da opressão, da ditadura e da violência sofrida por qualquer motivo.
Marjane cresceu em uma família politizada, embora seus pais não tenham sido tão engajados como seu avô e seu tio, este foi preso, torturado, exilado, eles educavam-na para ser livre, lutar por liberdade e se emancipar, ainda que não fosse no Irã, já que lá tinha costumes tão rigorosos sob pretexto religioso, mas as regras eram mais de cunho moral.
A menina sempre foi a rebelde, questionadora, era expulsa das escolas, desde criança queria lutar por seu país e fazer justiça. Devido a isso, seus pais acharam melhor enviá-la à Áustria para que não acabasse presa, torturada e morta em seu país de origem. Lá, ainda adolescente, "comeu o pão que o diabo amassou"! Coitada. Não se adaptava, sofria preconceito, tava sempre se mudando, teve  amores, desamores, decepções, depressão, perdeu seus princípios, não se reconhecia mais e estava sozinha.
Até que resolveu voltar à sua terra. Fez faculdade de artes gráficas (belas artes), casou, descasou e partiu, novamente, agora, para França, onde fez seu livro, ganhou prêmios e foi autora da primeira HQ iraniana.
A personalidade de Satrapi é admirável, ainda que errasse, reconhecia isso e buscava melhorar. Acreditava que a grande causa das guerras no Irã e da revolução era a desigualdade de classes, ela queria acabar com isso. Com  o passar do tempo, percebeu que as questões de gênero em seu país eram absurdas, o que contribuiu muito para que ela fosse embora. Sempre questionava professoras, guardas, freiras, colegas de classes, colocando em xeque os padrões sem sentido impostos pelo governo, que só violavam e emburreciam as pessoas, para que o foco da revolução fosse desviado, afinal, as pessoas deveriam se preocupar mais com as punições que sofreriam com a violação de leis sobre vestimentas, festas, bebidas, namoro do que com seus direitos à liberdade, de ir e vir, de expressão, orientação sexual, enfim.
Satrapi se tornou a minha mais nova referência literária!
Pra quem quiser, segue o link do livro em PDF, lembrando que no site da Amazon ele tá baratinho ;)

É isso, pessoal! Bjs..

Mais uma vez, seguem os links dos desafios literários:



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