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sexta-feira, 17 de maio de 2019

Desafio abril - "Eu sou Malala" e "A importância do ato de ler"

Desafio literário duplo cumpridooo ✅✅
Este mês ficou quase impossível e acabei terminando em maio, por conta das correções de dissertação, enfim, cumpri!
#desafioleiamulheres do mês de abril era ler uma autora asiática. E "caiu como uma luva", porque dias antes de conferir a leitura do mês, desejava muito ler este livro. Escolhi ler "Eu sou Malala", de Malala Yousafzai e Christina Lamb.

Li o livro em PDF e foi uma leitura INCRÍVEL!! Que menina!!
Este livro é mais um que compõe muito sobre o que sou apaixonada: biografia, mulher empoderada, luta por educação, história e política!! Ele diz muito sobre a cultura do Paquistão. Este é um ponto essencial porque nos leva a desconstruir preconceitos sobre aquele povo e conhecer quem eles são, nem todos são terroristas e só pensam em guerras, Malala destaca muito bem isso e apresenta um outro lado sobre sua cultura que não é valorizado ou mostrado pelas mídias mundiais.
Malala conta sobre sua trajetória de vida na luta pela educação de meninas no Paquistão, país onde morava. Entre 11 e 16 anos já falava em público e defendia a educação para as meninas. Sofreu um atentado talibã por isso, e, por um "milagre", sobreviveu e continua sua luta. Cita seu pai como seu maior mentor e inspirador, ele tinha uma escola, é super revolucionário, era professor e muito diferente dos homens machistas do Afeganistão.
Ela descreve o lugar em que mora, especificamente, Mingora, no Swat, como um local que nevava e fazia muito calor, ia-se de um extremo a outro, além disso, tinha enchentes, terremotos. O país é marcado por guerras e brigas, que alteravam ainda mais a estabilidade de vida daquela população. Não bastassem os problemas políticos, culturais e religiosos tinha ainda os naturais, como lamentou Malala.
Um dos assuntos que me causa bastante indignação, e é afirmado com detalhes no livro, é a maneira como as mulheres são tratadas nessa parte do Oriente. Elas são nada e homens são tudo, embora existam homens diferentes, como o pai de Malala, porém é minoria. Elas não podiam ir às escolas, o que, pra nós é um absurdo. Não podiam ir aos hospitais, andar na rua sem o acompanhamento de um homem da família, tinham que provar violência/estupro com 4 testemunhas masculinas, ou seja, raramente conseguia se provar isto. Seu dever é procriar e servir ao marido. Isso me faz ver como a luta feminista, a luta por direitos das mulheres foi e é muito importante para um viver digno.
Os swats seguem muitos rituais preceituados pela religião, são muito ligados a isto. Têm o dever da hospitalidade, seguem à risca a ideia de “olho por olho e dente por dente”, por exemplo, não agradecem, porque acham que agradecer é pouco para retribuir a um favor ou a uma bondade recebida, assim, eles têm que retribuir com ações à altura, agora, se for um mal, gera-se quase uma guerra, embora o Alcorão (livro de fé da religião) diga que devem ser pacientes. Malala e sua família remavam contra a maré do que era e ainda é a prática islâmica religiosa.
Malala tem o senso político muito apurado, já que sempre teve influência de seu pai e tinha-o como uma referência pra conquistar seus direitos e de suas amigas, negados por governos, que ela descreve como extremamente ditatoriais. Os caras eram uns santos em épocas de campanha, depois sumiam e só roubavam muito, bem parecido com o Brasil, não é mesmo? Rs.. Falou de um governante, em 2003, aproximadamente, que mudou bastante coisa no que diz respeito às tradições bizarras da cultura, do cotidiano, principalmente no que dizia respeito às mulheres, o que era raro, pois era costume as pessoas serem ameaçadas de morte e mortas porque não seguiam às leis religiosas, que se misturavam com as leis jurídicas. Também não muito distante do Brasil.
Devido aos governos, a escola sofria diversos ataques porque tinha aula para meninas, o pai dela foi ameaçado de diferentes maneiras por isso e porque não obrigava ninguém a usar uniformes ou roupas obrigatórias do local, sendo destinada para mulheres a burca e para homens um tipo de vestimenta específica para andarem nas ruas.
As meninas foram proibidas de frequentar as escolas, quem não cumprisse as ordens já imaginava consequências terríveis. O pai de Malala dava entrevistas de protestos e questionamentos, para muitos, de afronta, logo, tinha sua vida e de sua família em risco. Malala o admirava e seguiu os mesmos passos de seu pai, efetivamente com 11 anos. Diante de sua visibilidade junto ao pai, a esta altura já falava sozinha nos lugares, foi convidada, em oculto, a fazer um diário sobre como era viver na guerra. Usava um pseudônimo (falso nome) para contar com detalhes e denunciar as violações que ela e seu povo, principalmente as mulheres, sofriam. Isso era publicado, como se fosse em um jornal. Fico pensando, deve ter sido aventureiro, embora de uma cautela sem medida!
As escolas que permitiam a entrada de meninas sofriam atentados, homens bombas explodiam o lugar sem se importar que crianças estavam ali. Malala e suas amigas, inclusive, ficaram alguns tempos sem frequentar a escola por causa dessas atrocidades, pra proteger suas vidas e dos outros.
Destaco também a parte que ela fala sobre Bin Laden, foi muito interessante!! Porque vemos uma outra versão dos fatos. A história contada por quem viveu um fato é deslumbrante! Segundo ela, não foi Bin Laden que liderou e organizou o ataque às torres gêmeas, em setembro de 2011. Foi um outro grupo de religiosos que queriam se vingar dos EUA pelas sacanagens que eles tavam fazendo com Paquistão, Malala pontua que esta não seria a melhor forma de fazer isso, até porque muitos inocentes pagaram o que não deviam com a própria vida. Ela relata ainda que o pessoal do Paquistão foi obrigado, chantageado a ajudar os EUA a encontrar Bin Laden, com guerras, mortes, etc.
Os patchuns (grupo religioso e local do qual Malala e sua família faziam parte) não concordavam com os talibãs. Todo Paquistão não era talibã. Estes faziam com que as pessoas de fora achassem que todos eram terroristas, o que não era uma realidade. Ela não gostava que as pessoas agissem assim, não achava justo. Cito a autora Nosso país estava enlouquecendo. Como era possível que agora festejássemos assassinos?”, os talibãs matam por qualquer motivo e as pessoas ainda os apoiavam. Liberdade de expressão é zero lá.
Assim, Malala sofreu um atentado, dentro do ônibus escolar, recebeu tiros quase que à queima roupa e ficou muitos meses mal no hospital, quase que perdeu a vida por lutar pelo que, pra nós, é simples, educação para meninas. Mas não só isso, ela questionava a fome, a desigualdade, o fato de que os governos se preocupavam com coisas fúteis enquanto pessoas sofriam a negligência do Estado.
Parece uma história de um passado distante, mas tudo isso aconteceu há menos de 10 anos atrás. Além disso, é preocupante como as pessoas do Brasil não estão distantes dos Talibãs e daqueles que os apoiam, desejando a morte de quem está fora daquilo que consideram uma norma, inclusive religiosa.
Termino com uma fala de Malala, quando seu pai sugere que deixem de falar e lutar por seus ideais, ao se deparar com a filha muito mal no hospital: “Como? Não foi você que disse que, se acreditamos em algo maior que nossa vida, então nossas vozes vão se multiplicar, mesmo que a morte chegue?, (...) Não podemos desonrar nossa campanha!”.
Malala tem um fundo destinado para a educação de meninas no Paquistão e sua luta não para! Histórias assim me inspiram, me emocionam e me dão vigor à luta! Não podemos parar!

Bônus:
1/2- Existe uma adaptação deste livro destinada ao público infantil e é brilhante!! No canal do YouTube A cigarra e a formigasua tutora fala sobre este livro além de outros (também infantis) sobre mulheres que causaram no mundo.
3 - No livro da Malala, a autora faz algumas citações e indica o livro "Uma breve história do tempo", de Stephan Hawking, sobre as questões mais intrigantes que o ser humano tem a respeito da vida. Despertou muito interesse em mim, fica aqui a sugestão.


Para o #Desafio1LivroPorMês  escolhi "A importância do ato de ler", de Paulo Freire, o deuso! Este livro é curtinho, foi essencial, pela falta de tempo no mês de abril. Ler Paulo Freire é sempre um prazer.



Este livro é a escrita de uma oralidade, a "eternização" de uma, poderíamos chamar de conferência, em que o autor fala sobre a alfabetização de adultos; a elaboração de bibliotecas populares; e a prática disso em Cabo Verde, na África.
Por hoje é isso!! ;-)
E já começo com o seguinte "tiro":
"A educação deve ser vivenciada como uma prática concreta de libertação e de construção da história. E aqui devemos ser todos sujeitos, solidários nesta tarefa conjunta, único caminho para a construção de uma sociedade na qual não existirão mais exploradores e explorados, dominantes doando sua palavra opressora a dominados”.
Paulo Freire propõe uma alfabetização completamente diferente da que temos acesso em nossas escolas, e essa não é uma proposta nova, afinal, o deuso é o patrono da educação, o que é um descaso, lembrando que o cara é mais valorizado no exterior do que aqui e outra, Bolsonaro não acha que ele deveria ser o patrono, questiono-me sobre quem seria de sua preferência.. Enfiimmm...
Paulo Freire não acreditava na eficácia política, libertadora e emancipatória que a educação tem que ter neste modelo que temos. O método de ensinar por letras e sílabas, bem como apenas a apresentação de uma imagem sem um contexto não é suficiente. Logo, viu a necessidade de entendimento de mundo antecedendo o entendimento da palavra em si. Ele deu o exemplo do tijolo, em suas práticas de alfabetização de adultos em escolas populares, nesta priorizava contextualizar o tijolo com, por exemplo, obras e pedreiros e desenvolver, com os educandos, conceitos e entendimentos sobre a cultura e seus desdobramentos.
Ou seja, a leitura demanda uma vivência de mundo.
Alfabetização não deve ser memorização, isto não é conhecimento, além disso os conhecimentos “deveriam vir carregados da significação de sua (educandos) experiência existencial e não da experiência do educador”. Ele não era a favor de uma educação dada como simples significado, nem de ser apenas recebida, depositada pelo educando (o que em outros livros chamou de "educação bancária"), mas educação deve ser uma troca e um processo de construção em coletivo.
O professor não deve tratar o educando como um  paciente, que só recebe informações. É preciso falar e ouvir, reconhecer a ingenuidade dele e superá-la junto com ele, este exercício gera também o reconhecimento de sua própria ingenuidade.
Paulo Freire ainda destaca que a educação é política, e vice-versa, logo, educação é poder. E assim, está contra e a favor de alguém ou alguma coisa. Faz referência a Gramsci, no que diz respeito à revolução partir de dentro pra fora, a escola é o meio pra que isso aconteça, embora ela possa ser um meio de manutenção da cultura hegemônica da burguesia, como acreditava Marx. Porém, assim como foi mecanismo pra manter essa cultura, pode ser o meio para a transformação dela também.
Sobre a Biblioteca popular, ele acredita que deve ser montada por seus integrantes local, com histórias, mitos e costumes locais, não deve ser uma concessão ou uma imposição de cima pra baixo, o caminho deve ser contrário. O povo faz suas escolhas e criam suas histórias. Isso foi genial pra mim! Paulo Freire falou de fazer a história na qual se está presente, não apenas representado por ela. Os exercícios feitos nesse sentido, além da alfabetização para adultos de Cabo Verde, era de listar palavras, ler um texto que contivesse essas palavras e os educadores deveriam escrever sobre a cultura e história local, depois solicitava que os educandos fizessem o mesmo: criassem o texto sobre suas histórias e culturas, utilizando as palavras listadas.
Este trabalho deve ser, e diante dos embates que encontramos no fazer profissional, complexo e difícil, porém é necessário para uma educação, de fato, crítica, política e emancipatória, o que nos falta muito. Eu não faço aqui críticas aos professores, na verdade, eles são, junto aos educandos, as maiores vítimas desse sistema educacional que temos no Brasil.
Achei interessante também e não podia deixar de destacar a importância da utilização dos termos e o quanto isso faz diferença na questão da liberdade e da igualdade entre educandos e educadores e estes entre os que seriam seus pares. Freire se refere a todos, em sua cartilha, como "camaradas". As palavras têm seus significados explícitos e implícitos também! Isso precisa ser valorizado, precisamos estar atentas!
E termino com esse "hino", sobre a educação que Paulo Freire espera que tenhamos:
"Uma educação completamente diferente da educação colonial. Uma educação pelo trabalho, que estimule a colaboração e não a competição. Uma educação que dê valor à ajuda mútua e não ao individualismo, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade, e não a passividade. Uma educação que se fundamente na unidade entre a prática e a teoria, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual e que, por isso, incentive os educandos a pensar certo. Uma educação que não favoreça a mentira, as ideias falsas, a indisciplina. Uma educação política, tão política quanto qualquer outra educação, mas que não tenta passar por neutra. Ao proclamar que não é neutra, que a neutralidade é impossível, afirma que a sua política é a dos interesses do nosso Povo" (p.48).

Por hj, é isso!

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