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quinta-feira, 1 de abril de 2021

O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos de se relacionar - Sobonfu Somé




O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos de se relacionar - Sobonfu Somé (Livro 13. fev-mar/2021. 143p.)
Editora: Odysseus
Ano:  2009
Nota: 5/5
Gênero: Romance (não ficção/cultura e religião)

O livro é uma experiência da tradição oral de Sobonfu Somé, q visa falar sobre relacionamentos, principalmente o casamento, segundo as reflexões da sabedoria do povo Dagara, na  África ocidental. 
O prefácio já mostra q o q se verá, ao longo do livro, é algo bem diferente do q nossos "olhos ocidentais" estão habituados a ver, n só no q diz respeito aos costumes, mas tb no quesito de ter e buscar respostas pra td.
Água, terra, mineral, fogo e natureza são elementos que regem suas vidas na aldeia. O comando dela funciona por um conselho, composto por 5 homens e 5 mulheres, um homem e uma mulher representando cada elemento acima. 
O espírito é o ponto-chave dessa cultura, é ele q une os relacionamentos, independentemente das origens das pessoas. Pra eles, é força vital q há em tudo. Ele existe pra manter o propósito da nossa vida e pra nossa sanidade mental.
Segundo Sobonfu, nossos relacionamentos (ocidentais) giram em torno de ego e controle, afirma q começamos pelo auge, logo, a queda será (e é) um fato. Nos enganamos achando q racionalizar relacionamentos é a chave pra q deem certo, mas não, e sim, a espiritualidade. O espírito da intimidade ou de relacionamento é o resultado da união de dois espíritos.
Impressionante a noção deles de comunidade, de coletividade, se esse livro não fosse a experiência de uma pessoa e eu não tivesse provas de q a educação forma pessoas de diferentes maneiras, eu jamais acreditaria na existência dessa cultura. Egoísmo e corporativismo n existem nessa comunidade. Todo mundo cuida de todo mundo, sem privilégios, sem defender os seus, a sua família, os da sua casa, até pq, n existe essa noção "minha família", "meu filho", "minha mãe", todos são de todos. Isso deixa as coisas tão mais leves e mais responsáveis.
Os rituais existem pro povo entender td e qlqr coisa e fazer as melhores escolhas. Estar decidido e aberto a ouvir é imprescindível. Eles têm o hábito de ouvir, de ouvir seus ancestrais, q reconhecem saber da vida, do tempo, do passado e do futuro mais do q eles.
A parte do casamento já achei meio tensa, tirando o momento q as pessoas são escolhidas de acordo com seus propósitos e seus jeitos, ou seja, dificilmente vão se separar por atritos ou por divergências gritantes. Além disso, o casamento tem um objetivo maior q o amor e interesses próprios, particulares. Ele existe pra contribuir q os dois alcancem seus propósitos de vida, para os quais foram destinados, dsd o nascimento. E o ponto negativo disso é q as pessoas não precisariam se conhecer ou nem estar presentes no ritual de casamento. 
Entre os dagara, a poligamia é admitida, mas com o consentimento da mulher. Pelo q entendi, só os homens podiam ter várias mulheres. Porém, msm se a esposa quisesse, ele poderia n querer.
Os rituais de nascimento e iniciação são bem curiosos, e sou suspeita de falar sobre rituais, acho mt mágico e mt interessante. A valorização do ciclo menstrual me soou empoderador, coisa q eu preciso trabalhar em mim (rs). A tribo não trata isso como essencial à maternidade, romantizando essa questão, pelo contrário, ter filhos n é uma prioridade da comunidade e do casamento, mas sim, os propósitos de vida de cada um.
A segunda parte é meio repetitiva, mas dá detalhes sobre o casamento, os relacionamentos, rituais de reconciliação e manutenção das boas relações. Além disso, teve a questão do divórcio, q polemizou a reunião de leitura coletiva!! Foi mt bom!! E eu não vou dar spoiller.
E, pra fechar, teve a questão da homossexualidade. Entre os dagara, eles tinham a função de guardiães do portal, da passagem ou "porta" entre um mundo e outro. Não casavam e não viviam os rituais nem participavam deles como todos da aldeia. Pra a autora, eles eram vistos e considerados privilegiados, eram tratados como normais, não é como aqui (no ocidente). Mas eu discordo dela, pq eles não são tão iguais.
Essa questão de ser guardião entre um mundo e outro me lembrou de o arco-íris ser símbolo da causa LGBTQIA+, me levou a refletir, e tem mt a ver com o que eles eram na tribo dagara. 
Segundo a bíblia, o arco-íris é um símbolo da aliança q Deus fez com Moisés de nunca mais destruir a terra por meio da água, como fez no Dilúvio, foi o marco de fim de uma era e início de outra, como na foto abaixo. 


Na mitologia grega, a deusa Íris (foto abaixo), irmã de Hermes e q tinha a msm função q ele, era responsável por transmitir recados dos deuses para os homens e vice-versa, ou seja, estava entre um mundo e outro. 


Na mitologia nórdica, Bifrost é a ponte que liga Asgard (mundo dos deuses) a Midgard (mundo dos humanos), ela é conhecida como "ponte do arco-íris", só os deuses passavam por ela, trolls e gigantes queimavam seus pés qnd passavam por ela. 


Por coincidência, vi uma referência ao arco-íris no livro "meio sol amarelo", da Chimamanda, em q um dos protagonistas (Egwu), em meio a guerra, diz que, para os japoneses, ele era um mau presságio. E eu fecho aqui. rs..
Leiam esse livro, mt rico a respeito do relacionar-se com pessoas. Eu aprendi demais!